Por quê?

Especialistas da plataforma Por Quê?, iniciativa da BEĨ Editora, traduzem o economês do nosso dia a dia, mostrando que a economia pode ser simples e divertida.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Por quê?

Por que os combustíveis estão mais caros?

No Brasil, até recentemente, a política de preços de petróleo tentava isolar o consumidor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O sistema de preços não foi inventado por um economista genial ou qualquer outra criatura mortal. Nenhuma mente poderia ter criado tal maravilha, assim como nenhuma mente poderia ter criado a diversidade da vida na Terra.

Digamos que aumente a demanda de algum produto; a carne bovina, por exemplo. Mais consumidores vão procurar comprar carne, esvaziando as prateleiras dos supermercados e açougues, que vão então encomendar mais carne dos frigoríficos; estes, por sua vez, vão buscar mais animais para o abate nas fazendas. Mas se não houver boi “sobrando” para vender, os pecuaristas receberão mais por cada cabeça. Quando o preço do boi no pasto aumenta, o efeito se transmite em cadeia para os frigoríficos e finalmente para o consumidor, que vai pagar mais caro pela carne. 

Agora, vamos imaginar o mesmo processo, mas sem o aumento de preços? 

Uma maior demanda por carne levaria ao esvaziamento das prateleiras nos supermercados e açougues, que então pediriam mais do produto aos frigoríficos, que, por sua vez, transmitiriam o pedido aos pecuaristas. Mas estes, na ausência de uma remuneração maior, escolheriam deixar o boi no pasto, engordando para a venda futura. 

Ou seja, é o sistema de preços quem transmite o recado do consumidor para o produtor, avisando que quer consumir mais carne. 

Digamos, agora, que o choque no sistema tenha ocorrido longe do consumidor. Por exemplo, o aumento nas tensões no Oriente Médio e na Venezuela diminui a oferta de petróleo no mundo. Com menos petróleo sendo produzido, logo o sistema de preços reage, e o preço do barril de petróleo aumenta em mercados internacionais. Com um petróleo mais caro, o custo de produzir gasolina e diesel também aumenta. Se deixarmos o sistema de preços funcionar, o preço no posto de gasolina sobe também. 

É assim que funciona na maioria dos países avançados, inclusive nos Estados Unidos. O preço da gasolina e do diesel no posto reflete as flutuações no preço do petróleo nos mercados internacionais. No outro extremo, temos a Venezuela, onde a gasolina é praticamente doada para o consumidor a despeito do que está acontecendo mundo afora —bem como a maioria dos países pobres onde o governo subsidia uma minoria que dirige carros ao custo de negar serviços básicos à grande maioria da população. 

No Brasil, até recentemente, a política de preços de derivados de petróleo tentava isolar o consumidor das flutuações internacionais. Dessa forma, quando o preço do petróleo e o custo de produzir gasolina e diesel aumentavam, a Petrobras era forçada a vender gasolina abaixo do custo, acumulando perdas para subsidiar principalmente os donos de carro no Brasil. 

Há problemas em isolar o mercado interno dos preços internacionais. Primeiro, o consumidor assim não responderá ao aumento de custos que representa uma escassez real. Segundo, se a gasolina e o diesel estão sendo vendidos abaixo do custo, alguém está pagando a conta —provavelmente o cidadão pagador de impostos, mesmo aquele que vai andando para o trabalho. Nos tempos do governo Dilma, a conta ficava com a Petrobras, que acabou em posição financeira estrangulada, sem recursos para aumentar a produção ou desenvolver as reservas do pré-sal. 

Caberia ao governo dizer um enfático “NÃO!” às tentativas do sistema político de regredir para a política de preços controlados para os derivados de petróleo —caminho que preferiu não seguir. É lamentável que deputados e senadores irresponsavelmente advoguem um retorno à política de preços do governo Dilma ou cortes de impostos (isto é, menos recursos para saúde, segurança e educação) para proteger o consumidor do aumento de preços internacionais do petróleo.

A crise no Oriente Médio e Venezuela provoca uma escassez real de petróleo. Precisamos que o sistema de preços funcione para que não desperdicemos esse recurso, agora ainda mais caro.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.