O Brasil vai mal em termos de crescimento. Estamos basicamente parados desde 2013. Em nossa opinião, por três razões: (i) políticas econômicas de má qualidade entre 2009 e 2015, (ii) uma acentuada queda de preços relativos dos bens que vendemos no exterior entre 2012 e 2015 e (iii) a queda vertiginosa na atividade da construção civil no país, consequência da bem-vinda cruzada contra corrupção. Por fim, mais recentemente, a incerteza e a desordem no campo da política são adicionais possíveis entraves.
Lançando um olhar mais amplo sobre o problema, um olhar secular em ambas acepções da palavra, a raiz do desenvolvimento lento está na fragilidade de nossas instituições, que desde a colônia foram estruturadas para favorecer pequenos grupos organizados; na rejeição ao paradigma da competição e dos mercados livres e da impessoalidade das relações (que, sim, tem a ver com o primeiro ponto); e em nossa tardia percepção, no apagar do século XX, sobre a importância dos investimentos em capital humano e abertura ao comércio internacional.
Como tantos outros, o país passou por períodos de expansão e outros de estagnação, mas as expansões foram de curta duração, perderam fôlego mais rapidamente que alhures, morreram na praia da fragilidade institucional. O que diferencia os casos de sucesso dos outros é uma sequência longa de crescimento positivo da renda por trabalhador. Esqueçam o milagre das taxas chinesas de 10%, nos referimos a taxas de expansão da renda per capita na casa dos 2%, mas por décadas a fio. Soa modesto a princípio, mas exponencie isso por 50 anos.
Esse é o quadro geral, mas fotografias de períodos também são instrutivas. As nossas começam em 1850, no início do segundo Império. Os dados usados nos gráficos abaixo vêm da base compilada pelo saudoso Angus Madison e seu time.
O desempenho econômico do Brasil ao longo do século XIX é muito ruim. Como se vê, trata-se de 50 anos de estagnação. Desde a guerra do Paraguai, são 35 anos de ladeira abaixo, com forte queda nos anos que se seguem à proclamação da República.
O crescimento começa a aparecer em terra brasilis apenas ali depois da primeira guerra mundial, e ao largo da primeira metade do século XX, o país consegue triplicar a sua renda per capita. É um desempenho bom, mas não excelente quando atentamos para o fato de que a base de partida era muito baixa.
Nosso PIB per capita era 30% do chileno, 20% do da Argentina, 14% do da Inglaterra. São esses os anos em que saímos do campo para a indústria, com grande salto tecnológico. A grande depressão dos anos 30? O país a navega muito bem comparativamente ao mundo mais desenvolvido: após 3 anos de queda, o PIB reengaja forte na trajetória de expansão.
Finda a segunda guerra, o país pisa no acelerador. Nos trinta anos milagrosos, o país triplica sua renda por habitante. O cenário mundial é favorável. Até mesmo países de renda já elevada, como a França, também triplicam seu PIB por habitante em meras três décadas. O crescimento, contudo, não tem bases tão sólidas assim. A base dele é o investimento em máquinas e infraestrutura, sem dúvida importantes, mas que não levam muito longe se feitos com base em desequilíbrio das contas públicas e sem melhoras no capital humano e na produtividade.
A conta vem nos anos 80. Com um mundo abalado por dois choques de petróleo e as finanças públicas em frangalhos, o país para de crescer. As reformas dos anos 1990 dão um novo impulso, e o espantoso crescimento chinês nos 2000 eleva a maré para todos os emergentes. Mas, quando essas forças perdem momentum, o país volta a optar pela heterodoxia econômica, e encalha.
E não culpemos o mundo e a CIA por nossa estagnação de quase meio século. Pois enquanto o PIB per capita brasileiro nos últimos quase 40 anos cresce ao redor de pífios 30%, o do nosso vizinho apelidado de neo-liberal triplica, ou seja, cresce 200%.
A política econômica de hoje é de maior qualidade que a do período 2009-2015. Mas precisamos que o barco siga no rumo correto por décadas a fio.
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