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Priscila Borin Claro

Por que cuidar do clima é cuidar também da igualdade de gênero?

Calor excessivo provoca aumento do potencial de parto prematuro

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Priscila Borin Claro

Professora associada e líder do Centro de Sustentabilidade e Negócios do Insper. É mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de Wageningen (WUR) e doutora em Administração e Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal de Lavras

Com o aumento das temperaturas globais, surge uma nova preocupação: o aumento do potencial de parto prematuro. O parto prematuro, antes de 37 semanas de gestação completa, impacta mais de 15 milhões de gestações todos os anos. Especialistas médicos têm observado uma relação entre o calor excessivo e o aumento da incidência de partos prematuros. Esse é mais um exemplo da complexidade e das relações sistêmicas entre questões ambientais, sociais e econômicas.

A hipertermia, condição caracterizada pelo aumento anormal da temperatura corporal, pode desencadear uma série de respostas fisiológicas que afetam a saúde da mãe e do feto. Além disso, o estresse térmico, quando o corpo não consegue dissipar o calor adequadamente, também pode contribuir para complicações durante a gestação. Desidratação induzida pelo calor e infecções relacionadas ao aumento da temperatura corporal são outros fatores que podem aumentar o risco de parto prematuro.

Um parto prematuro frequentemente requer uma estadia mais longa no hospital tanto para a mãe quanto para o bebê. Isso pode resultar em custos hospitalares significativamente mais altos devido a internações prolongadas, acompanhamento médico mais intensivo e procedimentos médicos adicionais. Bebês nascidos prematuramente têm um risco maior de desenvolver complicações de saúde no longo prazo, como deficiências cognitivas, problemas de desenvolvimento, distúrbios respiratórios e problemas de visão. O tratamento e a gestão dessas complicações ao longo da vida podem acarretar custos de saúde adicionais significativos.

Além dos custos diretos associados ao tratamento médico, um parto prematuro pode ter um impacto financeiro na família em despesas com transporte, acomodação temporária, cuidados infantis adicionais e perda potencial de renda se os pais precisarem tirar licença para cuidar do bebê. Em um mundo no qual, na maioria de vezes, a licença é maternal, isso pode sugerir um aumento de desigualdade de gênero.

A ilustração de Líbero mostra uma barriga de mulher grávida com ambas as mãos na base, como se estivesse segurando
Libero/Folhapress

Uma pesquisa da professora Regina Madalozzo, em parceria com Merike Blofield, da Universidade de Miami, identificou que, em São Paulo, enquanto os homens costumam ser recompensados com melhores perspectivas em seus empregos após o nascimento do primeiro filho, a situação é oposta para as mulheres: entre aquelas que dividiam a casa com um companheiro, 38% gostariam de estar trabalhando, mas não tinham com quem deixar a criança ou não conseguiram encontrar emprego; já entre as mães solo, 57% estavam na mesma situação.

O problema, aliás, não é exclusividade nacional. Um estudo feito na Dinamarca, com dados de 1980 a 2013, mostrou que os ganhos das mulheres tendem a cair significativamente depois do nascimento do primeiro filho, o que não ocorre com os homens.

Na mesma linha, um levantamento feito nos Estados Unidos em 2018 revelou que, após o nascimento de uma criança, a diferença salarial entre cônjuges em relações heterossexuais chega a dobrar.

Em todos esses estudos, os efeitos do parto prematuro na renda da mulher não foram considerados, mas não é difícil imaginar que a situação seja ainda pior. As mudanças climáticas não são uma preocupação distante: elas já causam impactos imediatos e duradouros para as mulheres.

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