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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Não é necessário ficar constrangido ao ver seu time do coração

Milícias sociais questionam críticas à volta do futebol no Rio e análises brandas em SP

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O apresentador Milton Jung, da rádio CBN, admitiu que se sentou em frente à televisão com uma ponta de constrangimento para assistir ao Gre-Nal de quarta (22). O Rio Grande do Sul é o segundo estado em crescimento percentual da Covid.

São Paulo alcançou 361 mortes em 24 horas na noite em que o Corinthians venceu o Palmeiras. Pela gravidade da situação em Porto Alegre, o clássico foi jogado em Caxias do Sul. Pelo aumento dos casos no interior, o Campeonato Paulista só pode ser jogado na região metropolitana. Mas pode.

As milícias sociais perguntam por que houve críticas ao retorno do futebol no Rio e análises mais brandas em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

Ora, porque os governadores deram autorização explícita para a volta dos torneios gaúcho e paulista, mantiveram restrições nas regiões mais atingidas e seus torneios voltaram 34 dias após o do Rio. Foram 93 dias de paralisação do Flamengo, 127 dias de corintianos, palmeirenses, gremistas e colorados —26% a mais.

Já não é mais tempo de apontar o dedo para o retorno do futebol quando bares, restaurantes, parques e shoppings centers funcionam. As companhias aéreas diminuíram o número de voos durante a pandemia, mas há 100% de ocupação de suas poltronas.

Há ainda um festival de contradições no mundo, não apenas no Brasil. No futebol, a maior está na França. Assustada com a decisão do governo de que não poderia haver partidas até setembro, a federação francesa declarou o PSG campeão, em abril, e irritou o Lyon, que foi até o Parlamento pedir calma.

O presidente Jean Michel Aulas disse ter um prejuízo de 65 milhões de euros por ficar fora das competições europeias e solicitou que se esperasse um pouco mais para saber se seria mesmo impossível voltar aos jogos.

O governo não mudou de ideia. Os campeonatos da Itália, Espanha, Alemanha e Inglaterra reiniciaram, sem público. O da França, não.

Surpreendentemente, o governo francês permite, agora em julho, amistosos com 5.000 torcedores nos estádios. No recente Le Havre 0 x 9 Paris Saint-Germain, quem morasse na mesma casa poderia se sentar lado a lado e sem usar máscara.

Nesta semana, a recomendação mudou e todos precisam da proteção facial, mas os amistosos seguem com 5.000 espectadores. O governo francês argumenta que a curva de contaminação baixou. O Lyon argumentava justamente que isso poderia acontecer, quando pedia que se esperasse mais um pouco.

O comissário da NBA, Adam Silver, comportou-se corretamente como presidente do mundo, ao anunciar a paralisação do maior torneio de basquete do planeta por causa da contaminação de dois jogadores. Silver fez o que Donald Trump e Jair Bolsonaro não fizeram.

No dia seguinte ao anúncio da NBA, a liga espanhola e a Uefa anunciaram suas paralisações. Dois dias depois, alemães e ingleses fizeram o mesmo.

Eram apenas dois infectados quando o basquete norte-americano parou, e o retorno está programado para 30 de julho, na Flórida, onde morrem 170 pessoas por dia. O basquete voltará numa bolha, a mesma que pedíamos para que o esporte não fosse, desde o início da pandemia.

A situação segue gravíssima, e o esporte não é uma bolha. Só volta depois que outros setores retornam. Nenhum setor de atividade econômica recusa quando as autoridades sanitárias permitem trabalhar.

É o que está acontecendo neste momento. Será preciso voltar atrás se a recomendação mudar. Hoje, não é hora de festejar nada. Nem é necessário ficar constrangido ao se sentar em frente à televisão para assistir ao seu time do coração.

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