O Barcelona está a caminho de se transformar no Rio de Janeiro da Europa. Seus últimos dois presidentes foram presos. Josep Maria Bartomeu poderá aguardar sua sentença em liberdade. O Barça virou mais do que um clube, uma fábrica de negócios.
O ex-maior clube do planeta está aqui apenas como uma demonstração de como o mundo muda. O Cruzeiro perdeu da Caldense, no Mineirão, o Vasco caiu contra a Portuguesa-RJ e o Botafogo empatou com o Boavista.
Não parece novidade, porque os declínios de Botafogo, Vasco e Cruzeiro são mais conhecidos do que a corrupção do Barcelona.
Por décadas, dissemos que o torcedor brasileiro preferia assistir a Corinthians x Vasco a ver Corinthians x Araçatuba. Então, transformamos os velhos clássicos em novos jogos contra o Araçatuba. Corinthians x Vasco, que graça tem? Quando será possível voltar a ver Corinthians x Cruzeiro, Palmeiras x Botafogo?
Só quando voltarem à Série A.
Enquanto isso, o Cuiabá prepara a chegada à elite, projeta a dificuldade de se manter, mas projeta permanecer por muito tempo. “Somos diferentes de Goiás, porque somos o único time do Mato Grosso e a torcida do estado nos encampou. Além disso, temos logística melhor do que Belém ou Fortaleza”, diz o vice-presidente Cristiano Dresch.
Sócio da empresa Drebor (Dresch Borracha), Cristiano se refere aos voos diretos para Porto Alegre, enquanto o Ceará tem de passar pelo aeroporto de Guarulhos, ou de Brasília, para disputar partidas no Sul do país.
Ninguém será louco de dizer que o Cuiabá vai ser maior do que o Vasco. Não será. Mas a revolução está em curso.
Só haverá espaço para quatro clubes grandes no Rio de Janeiro, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos, se houver organização e investimento para isso.
O mesmo vale para Belo Horizonte. Há seis anos, o Cruzeiro era bicampeão brasileiro, há três foi bicampeão da Copa do Brasil.
Hoje, negocia como pagar ao Ajax metade do que receberá do São Paulo pela venda do lateral Orejuela.
Pelo fracasso empresarial de clubes gigantes, o Brasil parece caminhar para um novo retrato, mais parecido com o que há na Inglaterra, Espanha, Itália...
Um time grande por estado. Dois, talvez. Milan, Internazionale e Juventus moram a quarenta minutos de distância, Real Madrid e Atlético duelam na Espanha, Porto e Benfica em Portugal, mas é difícil haver quatro grandes num só lugar.
O Campeonato Paulista completa 120 edições, o mais antigo torneio de clubes do Brasil.
Pense que desde 1902, quando foi inaugurado, em vez do Paulista fosse o Brasileiro. Haveria campeões do Rio de Janeiro, de São Paulo e, ocasionalmente, do Rio Grande do Sul, Minas Gerais.
O Internacional teria vencido uma vez, com seu histórico Rolo Compressor, na década de 1940? Talvez... Talvez não. Certamente não chegaria aos anos 1970 com o tamanho de torcida que o obriga a lutar pelo título em todos os campeonatos que disputa.
Futuro representante do Mato Grosso, como Internacional e Grêmio são do Rio Grande do Sul, o Cuiabá nunca terá a obrigação de brigar por títulos. Se conseguir se manter na Primeira Divisão, em breve será uma espécie de... Araçatuba.
Quando o Brasileiro começou a ter acesso e descenso, havia a hipótese de criar um grande torneio nacional, cheio de clássicos, ou revitalizar 27 estaduais. Não se fez nem uma coisa nem outra.
As coisas mudam, o Barcelona se tornou um dos clubes mais corruptos do planeta, e o Brasileiro corre o risco de se tornar um gigante campeonato estadual.
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