O Irã, que disputa a Copa do Mundo no mesmo grupo dos arqui-inimigos Estados Unidos, nunca teve relevância no futebol mundial. Tem, entretanto, enorme importância geopolítica, histórica e cultural —o que inclui uma gastronomia riquíssima.
É compreensível que saibamos pouco sobre o Irã no Brasil. O regime religioso não convida ao turismo, e há poucos imigrantes iranianos por aqui.
Apesar da maioria muçulmana e da escrita em alfabeto árabe, o Irã não é um país árabe: os persas são a etnia mais numerosa, e persa também é o nome do idioma mais falado. Em muitas situações, as palavras "persa" e "iraniano(a)" são intercambiáveis.
Reproduzir a culinária iraniana no Brasil é um desafio por causa dos ingredientes. Os persas têm muitas especiarias, ervas e produtos alimentícios singulares, que não chegam aqui. Um deles é o golpar, planta da família da cenoura e da salsinha. Há dezenas de outros exemplos.
Na gigantesca São Paulo, há apenas dois lugares que eu conheço para comer uma refeição persa.
Um deles é o Sabor da Pérsia, no mercado Kinjo Yamato (em frente ao Mercadão), especializado em kebab (cafta) na brasa. Entre as concessões do restaurante, está a presença de feijão nos acompanhamentos.
O outro não é exatamente um restaurante. O Amigo do Rei é um serviço de jantares persas na residência de um casal –ele, brasileiro, atende as mesas; ela, iraniana, cozinha. Eles viajam ao Irã e trazem, na mala, ingredientes que nós não conseguiremos achar.
Lá é servida a adasi, uma reconfortante sopa de lentilhas. No Amigo do Rei, ela leva o tal do golpar e outra especiaria chamada nigela, entre outros temperos exóticos. Garimpei nos blogs gringos e achei receitas que dispensam esses ingredientes —tenho certeza de que mudam muito o sabor, mas trabalhamos com o que temos.
Uma sopa de lentilha nunca tem erro. Esta é acidentalmente vegana e diferente daquilo que a gente conhece porque o tempero fica a meio caminho entre o Mediterrâneo e a Índia —exatamente como a posição geográfica do Irã.
A cebola dá o tom principal, de duas maneiras: refogada, no início do preparo, e frita, servida como guarnição. Um bom azeite e suco de limão fresco também ajudam na finalização. E um pão quentinho sempre vai bem com qualquer sopa.
Adasi
Dificuldade: fácil
Rendimento: 2 porções
Ingredientes
120 g de lentilhas
1 colher (sopa) de azeite (e mais para servir à mesa)
2 cebolas fatiadas
2 dentes de alho picado
1 colher (chá) de cominho
1 colher (chá) de cúrcuma
1 colher (café) de pimenta-do-reino moída
1 colher (sopa) de extrato de tomate
Sal a gosto
Óleo vegetal (quanto baste)
Limão e pão para servir
Modo de fazer
1 - Lave as lentilhas e deixe-as de molho por pelo menos 1 hora;
2 - Numa panela, aqueça o azeite e refogue o alho e metade da cebola, até começar a dourar. Junte as especiarias. Misture. Adicione o extrato de tomate;
3 - Escorra as lentilhas (descarte a água) e junte-as ao refogado. Cubra com água e cozinhe em fogo baixo (adicionando mais água quando necessário) até a lentilha estar cozida num ensopado grosso;
4 - Aqueça o óleo numa pequena frigideira em fogo alto e frite, por imersão, a cebola restante;
5 - Ajuste o sal das lentilhas e sirva-as com a cebola frita, azeite e limão para espremer sobre o prato
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