Na cama, antes de dormir, o presidente pegou o celular e já estava se preparando para mandar mais um tuíte para o seu fã-clube quando, de repente, entrou uma mensagem de áudio:
— Jair! Eu já falei mais de mil vezes para você parar com isso...
— Alô. Quem é? O Cid Moreira?
— Eu não sou o Cid Moreira!
— Mas a voz é igualzinha!
— Eu sou Deus, o Criador, o Ser Supremo...
— Supremo? Tu é o Gilmar Mendes?
— Mais, mais, Jair! Eu sou Deus, o fodão da porra toda!
— Mas, peraí! Como é que você entrou no meu grupo?
— Eu estou em toda parte. Eu sou onipresente, Jair!
— Onyx Presente? Ah, eu já não aguento mais essa coisa de “Marielle Presente”, agora vai ter também “Onyx Presente”? O Lorenzetti também foi abatido a tiros? Tô por fora...
— Deixa pra lá, Jair...Eu só quero dar um toque. Parece que você e sua turma ainda não entenderam bem essa parada do Estado laico. Você não deve ter lido aquela parte da Constituição que diz assim: “É vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles, ou seus representantes, relações de dependência ou aliança...”
Depois de ouvir isso, o presidente deu um comando na configuração do celular.
— Jair, vou logo avisando: não adianta tentar me excluir do grupo. Eu sou Todo Poderoso. Eu tenho superpoderes, tipo um super-herói da Marvel ou da DC Comics, entendeu agora?
— Maneiro! E tem bonequinho seu pra vender na internet?
— Tem, Jair. O seu amigo Olavo de Carvalho comprou uma action figure da mãe do meu filho, a Virgem Maria, e botou lá na lareira dele. Mas, Jair, vê se não mistura as coisas! Misturar religião com o Estado vai dar merda. Vocês podem acabar que nem aquele governo dos aiatolás iranianos, lembra?
Neste momento, o presidente perdeu a paciência, pegou um revólver que estava na mesa de cabeceira e deu seis tiros no celular. Depois, foi dormir em paz.
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