Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Descrição de chapéu Eleições 2022

Ciro mira 2026; antipetismo teme adesão de pobres a Lula

Eleitorado de baixa renda poderia garantir novo ciclo longo ao PT

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É muito provável que Ciro Gomes (PDT), que se manteve como o terceiro colocado na disputa desde o início da corrida eleitoral, tenha merecido menos atenção de colunistas de qualquer veículo profissional —não trato do espaço noticioso— do que nomes da extinta "terceira via".

Se indagados sobre os motivos, seus partidários, especialmente os engajados das redes, terão a resposta na ponta da língua: também os analistas, a exemplo de toda a imprensa, seriam reféns da "polarização odienta" e não dispensariam "ao único candidato realmente independente dos banqueiros" a devida importância. Será mesmo assim?

Ciro Gomes, candidato à Presidência pelo PDT - Gabriela Biló-30.ago.22/Folhapres

Um amigo refletiu: "Por que vou escrever sobre Ciro? Não tem chance de ganhar. E, de quebra, os seus partidários começarão a me ofender nas redes caso não gostem de alguma coisa. Já basta ter de escrever sobre Bolsonaro e tomar porrada de seus fanáticos". É claro que deve haver outras razões, mas a impossibilidade de o analista sair ileso é uma delas.

Ninguém me contou nada de bastidor ou vazou alguma intenção secreta; tampouco tive acesso, como é mesmo o clichê cômico?, a "conversas do círculo íntimo". Entendo, dada a lógica dos fatos, que Ciro já deu início à corrida eleitoral de 2026. Pergunta óbvia de resposta não menos: quem pretende se colocar como alternativa "progressista" ao PT tende a preferir, nesta eleição, a vitória de Jair Bolsonaro ou de Lula? Eis o segredo mais mal guardado da República. A direita não capturada pelo bolsonarismo faz o mesmo —e errado!— cálculo.

Sigo nesse terreno especulativo, porém firme. Se Bolsonaro vencer e não destroçar o regime democrático, será grande a chance de não concluir o mandato. Mas notem a condição: assim seria no caso de a democracia sobreviver, o que não aconteceria. Lula triunfando, os adversários temem um novo ciclo longo do PT no poder.

E, nesse particular, um dado assustou o antipetismo, mesmo o não bolsonarista, lado para o qual Ciro migrou, mas que jamais estará sob seu comando. E que dado é esse? A adesão da maioria do eleitorado de baixa renda à candidatura de Lula, mesmo entre os beneficiários do Bolsa Família "eleitoralizado", evidencia que o PT se reconectou com extrema facilidade, mesmo sob vara, à sua antiga base social. O governo da fome de Bolsonaro colaborou para isso.

Ciro passou a denunciar uma suposta relação mutualista entre bolsonarismo e petismo, repetindo o mantra "nem-nem", mas com muito mais virulência, antes empregado pela dita "terceira via", e começou a dizer algumas coisas sem sentido sobre as alternativas de que dispõe o eleitor. Segundo ele, uma eventual defesa do voto útil é coisa de "fascistas de esquerda", como se essa opção, e é muito fácil demonstrá-lo, não pudesse ser até mais política —afeita ao chamado "realismo político"— do que o próprio voto de convicção.

Comecemos a voltar ao ponto de partida. E aqui me reencontro com a militância cirista nas redes, que vai me esfolar como defensor do voto útil. Não sou. Já dei muito voto "inútil" de que me orgulho —em Ulysses Guimarães, em 1989, por exemplo. Voto útil não é categoria de pensamento, mas instrumento contra o mal maior.

Reconheço o "direito", ou que nome tenha, de o pedetista dar início agora à corrida de 2026. Mas classifico como mentirosa a afirmação do candidato segundo a qual lulismo e bolsonarismo são males opostos e combinados. E olhem que bati muito em Lula quando Ciro era seu ministro. Ignorar o óbvio viés fascistoide de Bolsonaro, que articula o ataque à imprensa e cria o ambiente para assassinatos políticos, corresponde a apostar no quanto pior, melhor. Ademais, o pedetista jamais terá o voto "deles", mas só será presidente se um dia contar com os votos daqueles a quem perseguem.

Sim, eu sei. Dedos nervosos começarão em seguida a questionar a minha isenção. Estaria entre os que ainda não perceberam que Ciro "é o único que etc..." Numa coisa, esses ciristas (certamente não todos) e bolsonaristas se parecem: é preciso concordar com eles 100%. Meros 10% de divergência já fazem um canalha. Não creio que isso tenha futuro. E, se tivesse, viraria "Mito imbrochável".

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