Reinaldo José Lopes

Jornalista especializado em biologia e arqueologia, autor de "1499: O Brasil Antes de Cabral".

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Reinaldo José Lopes

Na nossa espécie, violência e estupidez são coisa de homem, não de mulher

Crédito: Miguel Schincarion - 8.fev.2015/Folhapress Torcedores do Palmeiras entram em confronto com a polícia militar, antes de partida
Torcedores do Palmeiras entram em confronto com a polícia militar, antes de partida

Homem –no sentido de indivíduo do sexo masculino da espécie Homo sapiens– é bicho que não presta. Não me dá prazer nenhum constatar esse fato, mas só alguém dominado por doses elevadas de hipocrisia ou cegueira seria capaz de negá-lo. A posse de um cromossomo Y frequentemente parece ser um pré-requisito para se deleitar com os mais variados tipos de pancadaria ou idiotice.

"Mas nem todo homem é assim", diriam indignados alguns de meus companheiros de masculinidade.

Sem dúvida, embora o peso das estatísticas, em todos os tempos e lugares, deponha contra os homens. Sim, pessoas são indivíduos, não médias estatísticas, e a variação que existe de um ser humano para outro é gigantesca, mas isso não invalida o fato de que, onde quer que haja violência ou estupidez, a probabilidade de que um ou mais homens sejam os protagonistas é elevada.

Em qualquer país do mundo, por exemplo, cerca de 90% dos homicídios são cometidos por homens –e a maioria deles está ligada a motivos (comparativamente) bobos: o entrevero no trânsito, o bate-boca no boteco, a tentativa de "lavar a honra com sangue". Homens matam sobretudo outros homens e, claro, também matam muitas mulheres (por outro lado, para cada 30 ou 40 casos nos quais um homem elimina um rival do sexo masculino, há apenas um caso no qual uma mulher assassina outra).

Surfar trens, brincar de roleta-russa ou fazer um "racha", passando por sinais vermelhos no centro da cidade a 150 km/h? Coisa de homem, claro –principalmente dos que pertencem à faixa etária que vai da adolescência aos 30 anos. Homens jovens são assassinados ou sofrem acidentes fatais a uma taxa cinco vezes superior à das mulheres, além de correr risco cinco vezes mais alto de ser torrados por um raio (afinal, tentar se proteger de uma tempestade não é coisa de macho). E não esqueçamos do Darwin Awards, a infame "premiação" concedida às pessoas que morrem ou ficam estéreis graças à sua própria imbecilidade e, com isso, supostamente melhoram as qualidades genéticas da humanidade ao não se reproduzir –como seria de esperar, cerca de 90% dos vencedores são do sexo masculino.

Seria reconfortante imaginar que todas as mazelas elencadas nos últimos parágrafos são resultado direto da criação e da cultura: frequentemente educados para agirem como brutamontes, no pior estilo "homem não chora, moleque", muitos meninos acabariam crescendo desse jeito torto. Seria reconfortante, mas incorreto –algumas das tendências negativas da masculinidade aparecem logo que as crianças aprendem a andar. Meninos, em média, mordem, batem e empurram outras crianças com frequência maior do que meninas. Também têm preferência muito mais acentuada pela popular "brincadeira de mão", como dizia minha avó: essencialmente, o brincar de lutar.

Muitas dessas diferenças entre homens e mulheres provavelmente têm origem biológica –o que, claro, não significa que elas sejam imutáveis e escritas em pedra, feito os Dez Mandamentos. Nas Américas, há 16 homicídios anuais por 100 mil habitantes, enquanto o número é apenas 3 na Europa –o que significa que muitos homens europeus estão escapando de seu suposto destino violento.

Reconhecer que há uma natureza humana básica pode muito bem ser o primeiro passo para estimular o que há de melhor nela, sem tentar reescrevê-la do zero.

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