Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renato Terra

Tite é melhor que Neymar

Até o tombo do técnico brasileiro é mais apropriado que as quedas do craque

Nosso momento mais significativo até aqui foi o estabaco de Tite. O treinador correu como um William Wallace descendo o Pelourinho na banguela para comemorar o gol de Philippe Coutinho contra a Costa Rica aos 46 do segundo tempo. Trombou com Ederson e tombou no gramado.

Uma análise detalhada da cena é reveladora. Primeiro, seu corpo rechaça imediatamente o solo. As costas mal tocam o chão e, num rolamento de judoca, está de pé novamente. O paletó sobe pelo cocuruto, desajeitado por não conseguir acompanhar a velocidade do movimento. Ele coça a coxa, ajeita o cabelo e vai abraçar a comissão técnica. Toma a decisão de sentar no banco. Muda de ideia e começa a passar orientações.

Tite não dramatiza. Não está nem aí para construir uma narrativa heroica diante das câmeras. Seus reflexos, seus instintos, estão ligados no coletivo.

Ilustração
Débora Gonzales/Folhapress

Se analisada de forma detalhada, a queda acrobática de Neymar para forjar o pênalti também é reveladora. Aos fatos: Gabriel Jesus lhe deu um passe de letra que desconcertou a defesa da Costa Rica. Neymar não chuta de primeira. Dribla o zagueiro. A bola sobra à feição para o chute. Seu corpo, no entanto, rechaça a finalização. Não curva para a frente. Não tenta o gol a todo custo. Não apenas desaba com os braços abertos, como acentua a queda jogando os ombros para trás. Em seguida, permanece deitado (de braços abertos) até receber cumprimentos dos companheiros.

No final do jogo, chora, ajoelha, leva as mãos ao rosto. Permanece sozinho até ser repreendido por Marcelo: "Vambora Ney. É todo mundo", diz o lateral, que foi revelado nas divisões de base do Fluminense, em Xerém.

Neymar exibe um comportamento individualista num time muito bem montado para ser coletivo. Os zagueiros deveriam ficar zonzos com Coutinho, William, Gabriel Jesus e Neymar. É um quarteto veloz, bom de passe e com rapidez de raciocínio. E que abre espaço para o eficiente Paulinho (que fez o gol contra a Sérvia dando apenas um toque na bola).

Mas a bola demora demais nos pés de Neymar. É um jogador brilhante, craque como poucos. Mas seus reflexos, seus instintos, são opostos aos de Tite. A seleção ganharia demais se Neymar priorizasse o passe. O drible genial deveria ser uma surpresa. E não uma tentativa constante.

Não à toa, Gabriel Jesus está mais apagado do que Fred em 2014. Fred também tinha Neymar como companheiro de ataque. Mas ainda dá tempo de mudar. Tite é melhor que Neymar.

Contador

Lá se vão 107 dias sem saber quem matou Marielle.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.