Pensei que era desta vez. As autoridades de saúde tentaram tudo para refrear o consumo do tabaco: proibições de fumar em quase todo lado, avisos sobre os malefícios, fotografias dos próprios malefícios. Não deu grande resultado. Depois atacaram os filmes e os livros.
Os heróis do cinema já quase não fumam. Bruce Willis deixou de fumar no quarto filme da série "Duro de Matar". Lucky Luke agora chupa uma palhinha. Só que essas mudanças também não produziram o efeito esperado. Mas de repente me pareceu que a própria indústria tabaqueira tinha começado a atentar contra si mesma. Inventaram um novo sistema que aproveita apenas o pior dos cigarros.
No meu tempo, o cigarro tinha algum estilo. Humphrey Bogart tirava um cigarro, dava um tapinha na cigarreira, acendia, puxava uma fumaça.
Ao mesmo tempo, ia dizendo coisas de homem trágico e sem esperança. O único desafio estético para o fumante era o final: havia que esmagar a bituca, que ficava amachucada e torta no cinzeiro, um destroço meio indigno, talvez uma lembrança de que o prazer do cigarro acabaria por ter um desfecho feio e infeliz.
Ora, o novo tabagismo aproveita apenas o que antigamente se deixava fora. Os novos fumantes não fumam exatamente cigarros, mas bitucas. Nada do que antes era atraente se mantém. Não tiram o cigarro, porque o cigarro já não existe. Não dão tapinha na cigarreira, porque também não há cigarreira. Não acendem, porque esses cigarros não são de acender.
Eles espetam uma bituca na ponta de uma espécie de esferográfica e depois chupam esse eletrodoméstico. E acabam por não puxar uma fumaça, porque essas bitucas aquecidas gabam-se de não fazer fumo. Portanto, eu pensei que era agora que o tabagismo ia sofrer um golpe fatal.
Uma coisa é o tabaco prejudicar a saúde, outra é nos fazer de figuras ridículas. Eu estou conformado com a eventualidade de vir a morrer. Ao que me dizem, é extremamente provável. Mas está nas minhas mãos evitar ser visto em público a chupar uma esquisita caneta.
Ao que parece, as alegações de que essas ignóbeis bitucas fazem menos mal do que os cigarros nem sequer estão confirmadas. Mas há quem se tenha convencido disso, o que significa que a nossa sociedade, quando posta perante o nocivo e o ridículo, opta pelo ridículo.
Trata-se de uma escolha deplorável.
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