Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira

Entre novidades da ciência para o bem-estar, há coisas difíceis de acreditar

A ciência estar hesitante é ótimo porque me permite escolher o que me agrada e descartar o que não interessa

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Periodicamente pesquiso no Google as palavras exatas "pode ser bom para a sua saúde", para saber as últimas novidades que a ciência descobriu para o meu bem-estar.

Talvez seja mais preciso dizer que faço a pesquisa para ficar a par do que os jornalistas entenderam dos últimos estudos científicos. Há notícias em que é difícil acreditar.

Em todo caso, a vantagem de ler que alguma coisa pode ser boa para a nossa saúde é que a própria ciência parece hesitante. Pode ser bom, mas também pode não ser. Isso é ótimo porque permite escolher estudos que nos agradam e descartar aqueles com hábitos que não interessam.

No desenho de Luiza Pannunzio uma pessoa branca usando calça, blusa de mangas compridas e meias está com as mãos sobre o peito. Usando fones, tem próximo aos pés um smartphone à sua direita e um notebook à esquerda. Na altura da cintura desse personagem está desenhado o logotipo do Google - colorido como ele é. Com a frase "pode ser bom para a sua saúde" na caixinha da pesquisa.
Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 24 de junho de 2023 - Luiza Pannunzio

A pesquisa mais recente devolveu os seguintes resultados. Primeiro: "Sentir-se mais jovem do que a sua idade pode ser bom para a sua saúde".

Agradeço, mas não consigo sentir coisas. É aposta de Pascal aplicada à saúde.

O filósofo também recomendava que as pessoas se esforçassem para acreditar em Deus, mesmo que não tivessem fé, porque seriam recompensadas no fim —ao passo que aqueles que morriam ateus teriam vida eterna difícil.

O problema é o mesmo: a gente não pode escolher o que acredita, e eu não acredito que sou mais jovem do que a minha idade. O barulho que faço ao me sentar não me permite ter essa fé.

Segundo: "Não tomar banho todos os dias pode ser muito bom para a sua saúde". Duvido. Pratico esporte violento, e preciso não só de um banho ao dia, mas vários.

Não tomar banhos diários me sujeitaria a comentários prejudiciais à minha saúde.

Terceiro: "Passar um tempo em contato com a natureza pode ser bom para a sua saúde".

Depende muito da natureza. A natureza tem um prestígio que nem sempre merece.

O veneno da cobra é 100% natural, convém não esquecer. Um vulcão em atividade é natureza no estado mais fulgurante. Passar um tempo com o Vesúvio não é bom para ninguém.

Quarto: "Cheirar um pum pode ser bom para a sua saúde". Juro. É um dos resultados.

Quem faz esses estudos? Como formulou essas hipóteses? Que experiências levou a cabo? Será boa ideia sugerir às pessoas que o segredo da longevidade é cheirar mal enquanto se contempla um bosque e acalenta ideias irrealistas sobre a idade? Supondo ser verdade, quem quer viver essa vida?

Creio que investigar o que pode ser bom para a saúde não tem sido bom aos cientistas.

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