Eu ainda sou do tempo em que a Barbie era um símbolo da conformação à dominação masculina. Agora, ela é um ícone feminista.
Não sei como é que ela foi capaz de operar uma transformação tão profunda, mas é uma inspiração para todos nós: se uma boneca oca sem nada na cabeça consegue, nós também conseguimos.
Mesmo no tempo em que ela era considerada frívola, a Barbie impressionava.
Em 64 anos de vida, a Barbie desempenhou mais de cem profissões diferentes (ela é das poucas pessoas do mundo que pode se gabar de, no espaço de uma década, ter tido carreiras profissionais bem-sucedidas quer como astronauta, quer como instrutora de aeróbica —algo que Neil Armstrong tentou sem sucesso, nunca tendo conseguido ensinar de forma competente o bodypump).
Mesmo assim, era apontada como símbolo da mulher doméstica —uma acusação que só pode ser explicada pela inveja que a aposentadoria acumulada da Barbie, forçosamente, provoca nos críticos.
Mas agora a Barbie emancipou-se. Vai longe o tempo em que ela impunha padrões de beleza irrealistas e estimulava um estilo de vida baseado no mais acéfalo consumismo. Agora ela recebe a consagração que há muito merecia.
Julgo falar em nome de todos quando digo que, de todas as bonecas que partilham o nome com carniceiros nazis, a Barbie é, sem dúvida nenhuma, a melhor e mais interessante.
Nunca gostei especialmente da Goebbels Assistente de Bordo e sempre considerei a Himmler Patinadora um pouco sinistra, mas a Barbie tem aquele encanto suave que, digam o que disserem, faltava a Klaus Barbie —apesar de partilhar do seu porte ariano.
Claro que conheço as críticas segundo as quais o corpo da boneca continua a ser irrealista, mas não concordo.
Atualmente, há muitas pessoas que, quando chegam aos seus 50 anos, também já são quase todas de plástico.
Tenho visto seres humanos quinquagenários que são bem mais inexpressivos do que a boneca Barbie. E boa parte deles chega ao fim da vida com o rosto mais jovem do que o de Benjamin Button.
Esse filme, ao contrário do da Barbie, era bem banal e pouco imaginativo.
A minha tia Alice —que está mais nova hoje do que em 1980— também sofre daquela doença e ninguém faz um filme sobre ela.
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