Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira
Descrição de chapéu

Ali Babalsonaro e os 40 assessores

Infelizmente, o mundo critica o estadista que vende presentes que não são dele

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A alegação de que Bolsonaro teria vendido nos Estados Unidos as joias e relógios que lhe foram oferecidos pela Arábia Saudita e pelo Bahrein é, a se confirmar, uma inspiração a todos nós.

Sua excelência o senhor ex-presidente da República do Brasil não teve vergonha de vender presentes. A vergonha é um monstro difícil de dominar, mas Bolsonaro conseguiu subjugá-la por completo.

Cada vez é mais claro que Bolsonaro não tem vergonha nenhuma. Quantas vezes já recebemos presentes
de que não gostamos? Tantas.

Há 3 homens brancos no desenho de Luiza Pannunzio. Muito parecidos com Bolsonaro, o advogado Frederick Wassef e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Os dois últimos estão vestidos de homens placa - como os que existem nos grandes centros comerciais de cidades de todo Brasil. Wassef - está em pé vestindo uma placa amarela escrito em vermelho e preto: COMPRO ROLEX OURO PRATA BRILHANTE - PAGO EM CASH posicionado do lado direito de Bolsonaro que veste terno e tem a mão direita no bolso da calça e a esquerda no bolso do paletó. Um pouco a frente, Cid caminha com uma maleta na mão esquerda também vestindo uma placa amarela escrito em vermelho e preto: VENDO JOIAS OURO RELÓGIO.
Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 19 de agosto de 2023 - Folhapress

Normalmente, a nossa reação é esquecê-los no fundo de uma gaveta. Em geral, nos ocorreria vendê-los. Especialmente se, a rigor, não fossem nossos, como é o caso. Mas Bolsonaro terá mesmo avançado para a venda no site americano Precision Watches —com pena minha, aliás. Para manter a coerência com o nível do resto da história, Bolsonaro devia ter ido vender o Rolex e o Patek Philippe no Enjoei.

Infelizmente, o mundo olha para um estadista que se dedica a vender presentes que não lhe pertencem e, em vez de louvar a sua coragem, o critica. O mundo parece acreditar que Bolsonaro e os seus assessores não tinham direito de vender as joias, uma vez que elas eram propriedade do Estado.

Tecnicamente, o mundo tem razão. Bolsonaro cometeu uma transgressão e fez uma desfeita. Uma transgressão porque, de fato, uma pessoa não pode vender o que não lhe pertence. Uma desfeita porque os jornais de todo o planeta estão a revelar o destino que ele deu aos presentes que a Arábia Saudita e o Bahrein lhe ofereceram.

Os dirigentes daqueles países ficaram a saber que Bolsonaro não gostou do Rolex nem do Patek Philippe que eles compraram com tanto carinho.

Se ele for novamente eleito presidente do Brasil e voltar a visitar aqueles países, talvez eles façam como nós quando um sobrinho adolescente faz aniversário e se limitam a lhe dar um envelope com dinheiro, para garantir que ele não se desfaça do presente na primeira oportunidade. Pouparia muito trabalho porque o envelope não precisa ser declarado na alfândega e nem vendido na Precision Watches.

Esta é mais uma prova da seriedade e do desapego de Bolsonaro. Bens materiais como joias e relógios não lhe dizem nada. Troca-os imediatamente por alguns simples papéis com alguns números escritos. Sempre a pensar nas contas corretas e na economia.

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