Há dois modos de resolver o problema do preconceito e da discriminação. Um é o que sociedades como a nossa adotam. Condenam a discriminação e fazem leis para que ela acabe.
Mas há outra, provavelmente mais eficaz do que tentar não discriminar. É discriminar todo mundo. Alceste, o misantropo de Molière, bem disse: estimar todo o mundo é não estimar ninguém. Logo, estimar ninguém é estimar todos.
Há dias, sobretudo quando estou no trânsito, em que me acho nesta disposição filantropa em que amo a humanidade inteira odiando toda a gente.
Nos Estados Unidos agora existe um problema. Uma boa parte dos principais dirigentes do país já passou há muito tempo a idade da reforma.
Joe Biden, que se recandidatará a presidente, tem 80 anos. Donald Trump, seu provável adversário, terá 78 no dia das eleições. Nancy Pelosi, que presidiu a Câmara até janeiro, tem 83. Mitch McConnell, do partido republicano, tem 81, mas parece não saber que idade tem ou em que planeta está.
Diante deste panorama, os americanos suspiram por renovação e sonham com o aparecimento de um jovem carismático de, sei lá, 60 anos. Por um lado, temos as pessoas que se queixam de viver numa gerontocracia. Por outro, as que se queixam das que se queixam.
Dizem que lamentar a presença de idosos no poder é etarismo, uma espécie de racismo contra velhos. Creio que ambos estão errados —como já disse, abomino toda a gente.
As pessoas que contestam os velhos só por serem velhos e desejam renovação por acharem que a juventude é um valor em si, parecem esquecer que as características pessoais sobre as quais não temos escolha e controle não nos definem.
Pelo menos, era assim no meu tempo. Essas pessoas talvez não tenham reparado que o candidato republicano mais reacionário e próximo de Trump é também o mais novo: Vivez Ramaswamy, de 38 anos.
Em 18 de julho de 2011, preferiam jantar com o idoso Nelson Mandela, que fazia 93 anos, ou tomado cerveja com Anders Breivik, de 32, que depois mataria 77 pessoas na Noruega?
Mas quem acha que é etarismo apontar o peso desproporcional que os maiores de 70 anos têm nos cargos mais importantes do Estado também parece equivocado. Todos as pessoas, independentemente da idade, gênero, cor ou orientação sexual, devem poder estar representados. Para que eu possa xingá-los todos.
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