Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Descrição de chapéu internet

O Google está empenhado em humilhar seus usuários com seu paternalismo

Os livros de ficção científica avisaram que as máquinas iriam nos atacar, mas não explicaram que seria com fanfarronice

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Creio que chegou a altura de alguém fazer a pergunta: quem é que o Google pensa que é? Os livros de ficção científica avisaram-nos de que as máquinas iriam nos atacar, mas não explicaram que o ataque não teria como objetivo a nossa eliminação física, mas sim a nossa humilhação.

Essa ferramenta de busca está empenhada em humilhar os usuários, sobretudo quando o usuário sou eu. O Google é fanfarrão e paternalista. A fanfarronice é constante.

Experimente fazer uma busca. O Google apresenta os resultados e assinala não só quantas referências descobriu mas também o tempo em que o fez. No fim de cada pesquisa, lá estão os dados. Cerca de 731 milhões de resultados e depois, entre parênteses, o tempo que levou a executar a tarefa: "(0,43 segundo)".

No desenho de Luiza Pannunzio um homem branco vestindo shorts preto, camiseta branca, meias, tênis e relógio - faz alongamento no canto direito. Curvando-se até os pés, encostando neles com as pontas dos dedos. O mesmo personagem sai correndo pisando na segunda letra O e na E da palavra GOOGLE - fazendo nosso olhar caminhar até o canto superior do desenho à esquerda do leitor onde o mesmo homem em pé checa o relógio no pulso e recebe a notícia de que está atrasado.
Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 28 de janeiro de 2024 - Folhapress

Com franqueza, e se me permitem, o Google que vá ser acintoso com a mãe dele. Essa fanfarronice da ferramenta de busca é mais do que simples jactância. O Google não está só se gabando de ser rapidíssimo. O que o Google está dizendo é o seguinte: "Precisei de menos de meio segundo para efetuar a pesquisa solicitada. Se o teu trabalho ainda não está feito, adivinha de quem é a culpa…" Até quando vamos admitir essa desfaçatez?

E depois vem o paternalismo. Uma pessoa engana-se ao escrever o que procura e o Google pergunta imediatamente: "Será que quis dizer: …?". Às vezes, sim, foi isso que eu quis dizer. Mas não preciso que me perguntem constantemente, como se eu fosse um frágil velhinho. Eu não sou um frágil velhinho. Sou um vigoroso e forte velhinho. Quando a pesquisa der resultados errados porque escrevi errado, vou perceber, e farei a pesquisa certa.

Outras vezes, o Google nem pergunta nada. Pesquiso "A" e ele diz: "Mostrando resultados para B". E, por baixo, mais pequeninas, aparecem as letras: "Em vez disso, pesquisar por A". Ou seja, em certas ocasiões, o Google pensa: "Nem vale a pena pesquisar o que esta pessoa quer. Estou sendo utilizado por alguém que não sabe o que diz. Vou antes apresentar resultados para uma coisa bem diferente. Se ele quiser insistir, que siga esse link bem pequenino." E, em princípio, o Google faz esta avaliação completa da minha capacidade em 0,43 segundo.

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