Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Qual o melhor plano de governo?

É reconfortante saber que há opções, mesmo que longe das ideais, contra o caos

É a economia, estúpido! Essa famosa frase foi o mote da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992. No Brasil, não é muito diferente. Basta olhar para o número de desempregados e o tamanho da crise.

Claro que o problema mais grave do país, a violência que ceifa mais de 60 mil vidas por ano, não vai ser resolvido no curto prazo. Mas a virada econômica pode acontecer.

Fui atrás de publicações, planos de governo, histórico e entrevistas das equipes econômicas dos candidatos para fazer um ranking dos três melhores planos de governo entre os que têm chance de ganhar a eleição.

Foi bom ler que em todos os planos (com uma exceção, preciso dizer qual?) os direitos humanos são colocados como fundamentais. Que o Brasil deixe de ser racista, machista e homofóbico o mais rapidamente possível.

Duas equipes econômicas foram desclassificadas de cara.

A do líder das pesquisas, já que Paulo Guedes nada mais é do que um ideólogo conservador, com zero de substância. Seu candidato foi o único a votar contra o Fundo de Combate à Pobreza e seu plano abusa da palavra liberdade, traduzida como: se você é pobre, tem a liberdade de ficar no seu lugar ou ir para a cadeia.

De resto, quase dormi lendo o programa de governo, com 81 páginas de empulhação. Mais do que nunca, #elenao.

A equipe de Lula, quer dizer Haddad, também foi desqualificada. O Brasil precisa de um plano com forte foco no social e combate à desigualdade. Não é esse o caso. Se um terço do que foi proposto sair do papel, também vamos ao abismo e bateremos outro recorde de desemprego.

O plano chega ao absurdo de chamar de sustentabilidade o subsídio a combustíveis fósseis. Também comete o erro de priorizar o ensino médio, quando a primeira infância é mais importante. E está recheado de subsídios aos ricos. Não dormi lendo, fiquei mesmo é com raiva de quem não aprendeu com os erros do passado.

Entre as equipes que sobraram, a melhor é a de Geraldo Alckmin, e o melhor plano, de Marina Silva, que no conjunto ficaria em primeiro lugar.

A equipe de Ciro Gomes tem excelentes nomes, alguns com experiências notáveis na administração pública do Ceará, mas falha ao ter como conselheiros os arquitetos das mais estapafúrdias políticas públicas brasileiras dos últimos 40 anos, como o Plano Bresser, que nos arruinou nos anos 1980, e o novo-desenvolvimentismo de décima categoria que é responsável direto pela nossa crise econômica.

O plano contém absurdos —e tome subsídios para empresas ricas.

De um colunista para um político: caro Ciro, largue os economistas paulistas e fique com os do Ceará.

O plano de Alckmin, por sua vez, fica em cima do muro. Não contém nada de errado, mas faltam detalhes, mesmo para um plano que busca mais inspiração do que qualquer outra coisa.

A equipe de Marina Silva é excelente, com dois dentre os melhores economistas do país, Ricardo Paes de Barros e Marco Bonomo. Marina tem o único plano de governo que tem um programa de educação baseado em evidências, com priorização para a primeira infância. Só isso já bastaria.

Mas também é o único plano que toca em sustentabilidade de forma adequada, combinando crescimento do setor agrícola com respeito ao ambiente.

Além disso, também é ímpar em dar destinação correta aos empréstimos do BNDES, reorientando-os para inovação e desenvolvimento sustentável.

Foi reconfortante ler que temos opções, mesmo que longe das ideais, contra a onda de caos.

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