Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Preguiça ou riqueza?

Ninguém precisa sofrer para aprender e as pessoas não devem ser carne no moedor da vida corporativa

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"Se eu tive que sofrer para aprender, ele também vai" é uma frase comum para pais e mães que passaram por obstáculos cabulosos. Mas ninguém precisa sofrer para aprender.

Motivação pode ser dividida, grosso modo, em extrínseca e intrínseca.

A imagem mostra uma mulher sentada no chão, encostada em um sofá, com a mão direita segurando a cabeça e a expressão de choro. Ela está vestindo uma blusa cinza de manga comprida e calça jeans. O fundo é desfocado, mostrando algumas árvores e uma janela.
Sociedade ainda usa a culpa para motivar as pessoas - Antonio Guillem/Adobe Stock

A primeira é a que vem do ambiente. Para sobreviver, fazemos o que for necessário, seja via cenoura ou pedaço de pau. É o tipo que alimenta o empreendedorismo de sobrevivência e o fogo que faz com que muitos trabalhem duro para melhorar de vida.

A intrínseca é diferente. Alguns têm em maior ou menor quantidade e outros não têm nenhuma. É a alavanca que muitos têm para criar, produzir e construir mesmo sem recompensa. Em um artista, resulta em Picasso, Artemisia Gentileschi, Monet e milhares de outros anônimos, que morreram com pincéis na mão, bem-sucedidos ou não.

Quando acontece em alguém no mercado corporativo, resulta em um workaholic (viciado em trabalho), que não consegue se desligar porque o trabalho é o fim em si mesmo.

O problema é que muitos pais, especialmente os com motivação intrínseca forte, não sabem lidar com o paradoxo moderno: enriquecer é acabar com motivações extrínsecas, mas, sem elas, o que acontece com indivíduos sem impulso interno? São preguiçosos? Acomodados? Vagabundos? Nada disso!

Na verdade, é exatamente isso que queremos como sociedade: pessoas que não precisam ser carne no moedor da vida corporativa moderna.

Mas se são nossos filhos, ficamos desesperados. "Ele não sabe o valor do dinheiro. Ela nunca teve que trabalhar duro." Que bom, seria ótimo que ninguém realmente passasse necessidade, com uma relação simples com dinheiro, usando quando se precisa e esquecendo dele o resto do tempo.

Em um país rico como a Dinamarca, ninguém realmente precisa trabalhar, mas se ninguém o fizer, a sociedade não se mantém rica. Por isso, desenha-se políticas como o sistema de seguridade flexível (flexicurity): ajuda estatal só vem se alguém estiver disposto a trabalhar. Ainda assim, há uma multidão de jovens insatisfeitos. Como não têm motivação intrínseca, vão para o mundo corporativo sem entender porque estão ali. Não conseguem subir na carreira e acham isso injusto.

Mas esse talvez seja um problema sem solução. Se o ambiente não colabora, há como fazer algo? Um conhecido é infeliz porque é ator, mas não consegue bons papéis, tendo que ganhar seus "parcos" R$ 20 mil por mês fazendo coisas que não gosta, como trabalhar em restaurantes. Mas ele não está realmente disposto a trabalhar duro para conseguir os melhores papéis; quer que o sucesso caia no colo.

A sociedade ainda usa a culpa para motivar as pessoas. A única pessoa feliz no país, sem sombra de dúvida, é um sujeito chamado de "Roberto Preguiçoso (lazy Robert)", porque estudou filosofia até ser expulso da universidade e achou trabalhar no McDonalds muito cansativo. Ele faz o mínimo para receber seguro-desemprego e vive feliz por Copenhague. As pessoas o chamam de preguiçoso porque, no fundo, sentem inveja da sua liberdade; por isso o uso da culpa.

Parece um problema de ricos, mas mesmo no Brasil, pais se descabelam porque seus filhos, bem alimentados e com as contas pagas, não querem se esforçar. Empresários escolhem mal sucessores e o nepotismo afunda a organização. Muitos ralam para entrar numa universidade sem saber para quê. E não há cenoura ou pau que resolva. E você? Sai da cadeira por que motivo?

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