Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

O funk de um bilhão de views

A lição que Konrad e Leandro nos deixam é que existe uma vitalidade no país

Muitos leitores de jornal podem nunca ter ouvido falar do músico MC Fioti. No entanto, desde a semana passada ele passou a pertencer ao clube de artistas globais que têm mais de 1 bilhão de visualizações no Youtube com sua música “Bum Bum Tam Tam”. 

Só para ter uma ideia, o hit musical de maior impacto dos EUA neste ano —a música “This is America” do rapper Childish Gambino —tem hoje “apenas” 400 milhões de visualizações no Youtube.

MC Fioti é o nome artístico de Leandro Aparecido Ferreira, de 24 anos. Nascido em Itapecerica da Serra, começou atuando na cena paulista de funk como produtor no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Trabalhou como pedreiro, catou papelão e alumínio na rua. Como vários brasileiros, nunca conheceu o pai e foi criado pela mãe.

Cena de 'Bum Bum Tan Tan', de MC Fioti
Cena do clipe da música [Bum Bum Tan Tan', de MC Fioti - Reprodução

Só para contextualizar, o funk há muito tempo deixou de ser carioca. O estilo saiu das favelas do Rio de Janeiro e migrou para Belo Horizonte, Recife e capitais de todas as regiões do país. Mais do que isso, é usado por artistas e produtores internacionais que vão de Madonna a Diplo. 

É hoje de longe o estilo musical mais global do país. Tanto é que a música de Fioti toca hoje o tempo todo em lugares tão diversos como Londres, Jacarta, Tel Aviv ou Antananarivo.

Por trás do sucesso de MC Fioti está o produtor Konrad Cunha Dantas, mais conhecido como Kondzilla. Konrad é hoje uma das principais marcas de mídia do país. Ele atua como roteirista e diretor de vídeos (foi ele que dirigiu o clipe de Fioti). É proprietário da gravadora Kondzilla Records e seu canal no Youtube tem 40 milhões de assinantes. Isso faz dele o quarto canal mais popular do mundo.

O sucesso do Kondzilla vem de entender como ninguém uma dinâmica que pouca gente compreende no Brasil. 

Enquanto a maioria dos negócios de mídia no país busca falar com os segmentos mais abastados da população, Kondzilla entendeu a força da base da pirâmide. Começou a fazer vídeos que evocam a realidade e o gosto da maioria da população do país. 

O resultado é explosivo. Tudo que Konrad põe a mão vira ouro. Enquanto artistas tradicionais suam a camisa para conseguir 1 milhão de visualizações, qualquer vídeo lançado em seu canal alcança fácil 90 milhões de visualizações. Em outras palavras, Konrad é hoje —de longe— o maior comunicador do país na internet (e um dos maiores do mundo).

“Bum Bum Tam Tam”, do ponto de vista musical, é responsável também por dois feitos notáveis. 

O primeiro é que a base melódica da música é um trecho da “Partita em Lá Menor para Flauta Solo”, de Johann Sebastian Bach, que foi sampleado de forma magistral por Fioti. Ele fala sobre isso na própria letra da música: “É a flauta envolvente que mexe com a mente de quem tá presente”. 

O segundo é que a batida que ele criou é original. Nela, as marcações são omitidas, deixando para quem ouve a tarefa de completar o ritmo. Não por acaso seu estilo está sendo imitado e copiado globalmente.

A lição que Konrad e Leandro nos deixam é que existe uma vitalidade no país que continua invisível, mas só para quem não quer ver.

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