Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos
Descrição de chapéu Folhajus mudança climática

Chegou a hora da geoengenharia?

Conceito inclui ideias mirabolantes como lançar escudos refletores no espaço para aumentar as áreas de sombras do planeta

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Você pode nunca ter ouvido falar de geoengenharia, mas, quando ela acontecer, pode ter certeza de que afetará a sua vida e a de todos nós. O termo diz respeito à ambição de interferir no clima do planeta em escala global, para corrigir o curso do aquecimento e das mudanças climáticas.

Há pelo menos duas vertentes dentro dessa ideia. A primeira é voltada para remover carbono da atmosfera. A segunda quer reduzir a incidência da luz solar sobre o planeta.

Máquina joga sprays de água
Máquina de aerossóis desenvolvida para clarear nuvens e refletir mais os raios solares em teste a bordo de um navio em Alameda, na Califórnia - Ian C. Bates/The New York Times

Na primeira, há quem defenda jogar vastas quantidades de sulfato de ferro nos oceanos para promover uma espécie de fertilização dos plânctons, na expectativa de que isso remova porções significativas de carbono que hoje sobrecarregam a atmosfera.

Ou, ainda, espalhar silicato em vastas extensões da superfície do planeta, acelerando o processo de formação de ácido carbônico, que seria também capaz de remover CO2 da atmosfera.

A segunda vertente também tem suas ideias mirabolantes. Por exemplo, pulverizar aerossóis de dióxido de enxofre na estratosfera para que essa substância sirva como uma barreira refletora de parte da luz solar que incide no planeta.

Outra ideia é lançar escudos refletores no espaço para aumentar as áreas de sombras do planeta, diminuindo a incidência do sol. E até mesmo desmatar as florestas boreais, para dessa forma aumentar a superfície branca do planeta, capaz de refletir a luz do sol de volta para o espaço.

Renderização de uma vela gigante que os cientistas querem enviar ao espaço para bloquear a radiação solar e manter o planeta dentro de limites climáticos habitáveis
Ilustração de peça gigante que os cientistas querem enviar ao espaço para bloquear a radiação solar e manter o planeta dentro de limites climáticos habitáveis - The New York Times

Muitas dessas propostas soam como maluquices, inclusive por seu caráter irreversível, imprevisível e capaz de afetar toda a população terrestre. A questão é que, quanto mais a situação climática se agrava, mais a geoengenharia está sendo vista como uma alternativa viável de ação.

Mas quem teria legitimidade para representar a humanidade como um todo para fazer algo desse tipo? A resposta a essa pergunta está começando a ser construída.

Em fevereiro de 2024, a Suíça propôs à ONU a criação de um grupo de especialistas para examinar "os riscos e oportunidades" da gestão de incidência de luz solar (SRM – Solar Radiation Management).

A agência de gestão atmosférica e oceânica dos EUA também está nessa. Seu diretor afirmou que "alguns aspectos da geoengenharia serão componentes importantes da solução para reduzir o aquecimento global e o aumento da acidez dos oceanos". Há também centros dedicados ao tema em várias universidades importantes, incluindo a Universidade Harvard.

Nesse contexto, cada desastre natural que acontece acaba se tornando uma peça de propaganda para a geoengenharia. E, quanto mais vão se agravando, mais a ideia de intervenção climática vai se tornando palatável.

É como se fosse um Ozempic planetário. Para lidar com o excesso de carbono gerado por um conjunto enorme de decisões equivocadas, recorre-se a um caminho único, que converge em torno de uma suposta "bala de prata".

O problema é que já estamos há tempo suficiente no planeta para saber que soluções simples não existem. Como diz o pensamento milenar da ayurveda, a melhor forma de limpar um rio não é tratar sua água poluída, mas sim parar de sujá-lo.

Torço muito para que a ideia de geoengenharia continue no campo da ficção científica e não precise se converter jamais em tábua da salvação da humanidade.

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