Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro
Descrição de chapéu

Prisioneiro de 'Cantando na Chuva'

Tudo que foi vendido uma vez pode ser vendido de novo

Gene Kelly em 'Cantando na Chuva', que já saiu em todos os formatos possíveis
Gene Kelly em 'Cantando na Chuva', que já saiu em todos os formatos possíveis - Divulgação

Caiu-me às mãos outro dia uma edição em Blu-Ray de “Cantando na Chuva”, o melhor musical do cinema. Desde a estreia, em 1952, “Cantando na Chuva” já saiu em todos os formatos possíveis de filme e disco, comprovando a filosofia americana de que qualquer coisa que tenha sido vendida uma vez pode ser vendida de novo, e para a mesma pessoa. No caso de “Cantando na Chuva”, essa pessoa sou eu.

Começou com o disco de 78 r.p.m., selo amarelo da Metro, contendo a canção-título, com Gene Kelly, no lado A, e “You Are My Lucky Star”, com Gene e Debbie Reynolds, no lado B. Descobri-o entre os discos de minha mãe na mesma época em que vi o filme pela primeira vez, em meados dos anos 50. Anos depois, achei o LP de dez polegadas, com oito músicas. E custei, mas encontrei o LP de 12 polegadas, com as dez faixas que, para mim, eram a versão integral do filme.

Mas, então, nos anos 90, entramos na era digital e saíram os CDs de “Cantando na Chuva”, cada qual melhor: um com 15 números do filme; outro, com o som dos sapateados; e um terceiro, com os takes alternativos, os rejeitados, os out-takes, os feitos para o rádio e toda a música incidental, em 30 faixas. Dali jurei, chega de discos de “Cantando na Chuva”.

Com o filme em si, foi igual. Começou com o modesto VHS que comprei em Nova York, em 1988. Então saiu uma versão em laser-disc, lindíssima, com capa dupla. E, em seguida, as edições em DVD, cada qual mais irresistível em comentários, documentários, entrevistas e takes inéditos. Comprei-as todas e nunca me arrependi. Mas, um dia, um homem tem de tomar uma atitude. E jurei também nunca mais comprar nada relativo a “Cantando na Chuva”. 

Mesmo porque conservo tudo que tive no passado, inclusive o 78 original. Mas esta edição que me caiu às mãos trazia algo diferente: uma capa de chuva amarela, igual à que Gene, Debbie e Donald O’Connor usam no começo do filme. Recaí.

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