Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Remédio para azia

Bolsonaro parece errático e destrambelhado. Mas só parece

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Você entra na farmácia para pedir uma caixa de comprimidos contra azia, e o empregado lhe oferece três caixas pelo preço de duas. Pensando estar levando uma caixa de graça, você se submete sem perceber que está somente pagando o justo pelas três. Significa que, se levasse apenas uma caixa, como era de sua intenção, estaria pagando por ela mais do que deveria —daí aquele inesperado “desconto” que as gentis farmácias oferecem.

O mesmo acontece com as promoções do comércio, em que você paga a metade do dobro que os produtos passaram a custar e acha que está levando vantagem. E a internet faz parecido, ao oferecer soluções para problemas que até há pouco não existiam —como obrigá-lo a instalar dispositivos contra vírus que, se não fosse por ela, você não teria como contrair. Parece uma conspiração universal, dedicada a desorientá-lo, iludi-lo, tapeá-lo, aproveitar-se de você. 

Jair Bolsonaro é uma das estrelas dessa conspiração. Vive de achar soluções para problemas que ele mesmo cria. A cada dois ou três dias, desfere um coice contra algum país ou instituição internacional, ofende alguém com quem deveria se dar bem ou mente sobre assuntos que estavam pacificados, quietos no seu canto —para, no dia seguinte, recuar do coice, retirar a ofensa ou fazer-se de indiferente ao ser apanhado na mentira. Mas o coice, a ofensa e a mentira continuam no ar. 

É também o recordista de medidas provisórias irresponsáveis que, como ele sabe muito bem, não são para valer e serão facilmente revogadas —mas servem para fazer espuma e levar os beócios a acreditar que os outros poderes “não o deixam governar”. E não se cansa de insuflar o fantasma da esquerda para nos ameaçar com um golpe de direita.

Parece um estilo errático, mas não é. Há um método por trás do destrambelho, e seus efeitos não serão curáveis nem com aquelas três caixas de remédio para azia.

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores ao sair do Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

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