Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro
Descrição de chapéu

A taça, enfim, descansou

A Fifa não sabe a que intimidades a Jules Rimet teve de se submeter em 1958

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O turco Nusret Gökçe, o homem do bife de ouro na Copa do Mundo, é uma potência como açougueiro, chef e restaurateur. Tem 22 restaurantes em cidades internacionais, nos quais serve filés folheados a 24K, rasga os bifes com as próprias mãos na frente do freguês e os salga deixando o sal escorrer pelos antebraços nus. Segundo seus biógrafos, há algo nisso que atiça a lascívia de seus clientes e os faz salivar, um deles Ronaldo Fenômeno. Ronaldo levou os meninos da seleção brasileira ao restaurante de Gökçe em Doha e eles vibraram, embora não se saiba se isso influiu no fiasco do Brasil na competição.

Salt Bae, nome artístico do turco Nusret Gökçe, que ficou conhecido no Qatar por fazer churrasco de R$ 9 mil com tiras de ouro, posa com o troféu da Copa do Mundo no gramado do estádio Lusail
Salt Bae, nome artístico do turco Nusret Gökçe, que ficou conhecido no Qatar por fazer churrasco de R$ 9 mil com tiras de ouro, posa com o troféu da Copa do Mundo no gramado do estádio Lusail - Nusr_et no Instagram

Apitado o final de Argentina x França, Gökçe invadiu o gramado e foi fotografado na premiação segurando a Copa com as duas mãos, levantando-a como se a tivesse conquistado e beijando-a com a maior volúpia. A Fifa, dona do caneco, ficou tiririca —ninguém, exceto os jogadores e as autoridades, pode sequer tocar nele, quanto mais conspurcá-lo com tais intimidades. E promete tomar "providências apropriadas".

A Fifa trata esse troféu como se ele fosse o cetro do rei Salomão. E se ela soubesse o que aconteceu com a antiga Taça Jules Rimet, quando a conquistamos pela primeira vez, em 1958? A então CBD a trouxe para o Brasil, desfilou-a no carro dos bombeiros e, a partir dali, a taça não teve mais sossego.

Todas as cidades do país queriam conhecê-la, apalpá-la, lambê-la, e os cartolas não se faziam de rogados. Bellini, capitão do time, tinha de levá-la toda semana aos mais remotos grotões, onde ela era recebida pelo prefeito, estrelava banquetes, levava beijos estalados e passava de mão em mão, alguma talvez segurando uma asa de frango. E como era uma taça, feita para se beber o champanhe da vitória, usavam-na para beber de tudo, de cerveja Malzbier a ponche de ovos.

Anos depois, como se sabe, ela foi roubada e derretida. E só então descansou.

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