Está nas enciclopédias que o Tamba Trio, o trio pioneiro da bossa nova nos anos 60, era formado por Luiz Eça, piano, Bebeto Castilho, contrabaixo, e Hélcio Milito, bateria. Correto. E que seu disco de estreia, "Tamba Trio", de 1962, abriu os estúdios para outros trios de alto virtuosismo, como o Bossa 3, o Zimbo, o Rio 65, o Jongo, o Milton Banana, os de Johnny Alf, João Donato, Sergio Mendes, Tenorio Jr. e muitos mais.

O que não está nas enciclopédias é que o Tamba nunca foi trio. Era quarteto, com o violão de Durval Ferreira, citado nos créditos, compondo sua possante base rítmica. Ou quinteto, por Bebeto dublar na flauta. Ou sexteto, por Bebeto ser o crooner do grupo. Sem falar nos discos a que Luiz Eça apôs cordas. Em quatro anos, o Tamba gravou cinco LPs essenciais, um deles "Avanço", com a primeiríssima gravação de "Garota de Ipanema" —ou não?

O Tamba gravou "Garota de Ipanema", na Philips, em janeiro ou fevereiro de 1963. Não há uma data exata, mas sabe-se que foi antes da gravação por Pery Ribeiro, na Odeon, em 26 de março. Só que o Tamba não levou esse galardão para a história. Luizinho Eça passou seis meses trabalhando o master em estúdio, retocando-o com pincel de unhas, garantindo sua perfeição —a perfeição padrão Tamba—, para desespero do produtor Armando Pittigliani. Quando o disco enfim saiu, em setembro, a Odeon já lançara o de Pery em julho.

Em 1966, o Tamba foi para os EUA e gravou grandes LPs para o produtor Creed Taylor. De volta ao Rio, desfez-se e refez-se com diferentes formações, uma delas sem o próprio Luizinho. Só um músico esteve em todas: Bebeto. Voz, contrabaixo e flauta, ele era o som do Tamba Trio. Certa vez perguntaram a João Gilberto quem era o melhor cantor da bossa nova, "depois dele, João, claro". João respondeu: "Bebeto. Mas não depois de mim. Antes."

Bebeto nos deixou no dia 11, no Rio, aos 83 anos.