Ótima entrevista de Teté Ribeiro com a cantora Wanderléa na Folha (30/4) joga reveladora luz sobre a Jovem Guarda como "movimento" nos anos 60 e dá hilariantes informações sobre seus líderes Roberto e Erasmo Carlos. Nada como perguntas curtas e objetivas para suscitar respostas francas e inesperadas.
A Jovem Guarda nunca foi um movimento, nem mesmo musical. Era um programa de auditório de domingo à tarde na televisão, criado pelos poderosos publicitários Magaldi, Maia e Prosperi e destinado a vender não só discos, mas também botinhas, calças Saint-Tropez e minissaias. Ninguém dizia "Jovem Guarda" ao falar de "O Calhambeque", com Roberto, "Festa de Arromba", com Erasmo, e "Pare o Casamento", com Wanderléa. Era apenas iê-iê-iê, uma espécie de rock com acne, e o sonho de seus astros era sair na Revista do Rádio. E não tinha nada de revolucionário. Comparado ao que os estudantes estavam fazendo nas ruas —e na cama—, era alienado em política e caretíssimo em costumes.
Mas a cereja da entrevista é quando Wanderléa desmente os rumores de que, naquele tempo, mantinha um namoro com Roberto ou Erasmo. "Não tinha condição", diz ela. "Eu via os dois fazendo touca no camarim. Acabava com qualquer clima."
Fazer touca consistia em atarraxar à cabeça uma meia feminina de seda justíssima, para manter "lisos" os cabelos violentamente esticados a escova ou passados a ferro quente. A touca era indispensável para aqueles rapazes que se envergonhavam de seus cabelos espetados e sonhavam com as franjas celestiais dos Beatles. O iê-iê-iê, já tão pouco brasileiro como música, queria ser também ariano. Imagino o pavor de Roberto e Erasmo quando surgiu Ronnie Von com seu cabelo liso, longo e louro.
Quem enterraria o iê-iê-iê, no entanto, não seria Ronnie Von, mas o Tropicalismo, cujos líderes, muito mais radicais, dispensavam lenços, documentos, toucas e até pentes.
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