Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa

Ainda a Coreia do Sul

Estrutura produtiva do país asiático é bem diferente da brasileira

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No domingo passado (10), mostrei que a diferença de produtividade do trabalho entre o Brasil e a Coreia do Sul, de 2,4 vezes, pode ser explicada pela maior acumulação de capital físico e pela maior e melhor escolaridade da mão de obra. A produtividade intrínseca da Coreia do Sul, isto é, aquela que não depende do capital físico e da escolaridade de mão de obra, não é diferente da brasileira.

Se fizermos a mesma comparação da economia brasileira com a dos EUA, o resultado será outro. Nesse caso, a produtividade intrínseca da economia americana será 60% maior que a brasileira. Isto é, se a economia americana operasse com as mesmas quantidades de capital e escolaridade observadas no Brasil, eles produziriam por hora 60% a mais que o trabalhador brasileiro. Os cálculos estão aqui.

Evidentemente a produtividade do trabalho americana é 4,2 vezes a nossa, não somente 1,6. A distância entre 1,6 e 4,2 deve-se ao capital e à escolaridade.

Imagem mostra duas mulheres e dois homens andando em uma calçada; elas usam roupa de frio e máscara branca
Pessoas andando na região central de Seul, na Coreia do Sul - Heo Ran - 5.jan.22/Reuters

Mas é fato que a estrutura produtiva da Coreia do Sul é bem diferente da brasileira. O crescimento econômico deles foi acompanhado por um contínuo processo de alteração e de aumento da complexidade dos bens e serviços produzidos pelo país.

Adicionalmente, é fato que o setor público interveio muito no processo de construção dessa complexidade produtiva.

É perfeitamente possível compreendermos a ação governamental e o crescimento sul-coreano a partir da teoria convencional. Os seguintes passos organizam o argumento:

Primeiro, a vantagem comparativa produtiva de cada país é dada pela dotação dos fatores produtivos relativa à dotação média na economia mundial. Se o capital é abundante, a economia tenderá a exportar produtos cuja produção utiliza intensamente o capital.

Segundo passo: se há um processo continuado de acumulação de capital e de escolarização da força de trabalho, há nessa economia um processo continuado de alteração da dotação de fatores.

Terceiro passo: consequentemente, se as dotações de fatores estão se alterando rapidamente, a vantagem comparativa estática está mudando continuamente.

Desse último fato segue que a estrutura produtiva precisa mudar continuamente. Esse é o quarto passo.
Sabemos que o processo de inovação tecnológica em um espaço econômico é cheio de imperfeições.

Como escreveu Justin Lin, "as inovações econômicas —sejam elas bem-sucedidas ou fracassadas— geram informações sobre oportunidades de mercado lucrativas e não lucrativas. Mas, como grande parte dessa informação está disponível não apenas para os próprios inovadores mas também para concorrentes e potenciais imitadores, que não arcam com nenhum dos custos da inovação, ela tenderá a ser insuficientemente fornecida pelo mercado".

Evidentemente, para que o setor público consiga ajudar o setor privado a ajustar, ao longo do tempo, a estrutura produtiva às novas vantagens comparativas estáticas, é necessário que o Estado tenha capacidade de gestão.

O Estado terá que estar suficientemente próximo do setor produtivo, para entender dos temas e corrigir as falhas de mercado; mas suficientemente distante a ponto de conseguir se insular dos interesses dos grupos de pressão. O Estado precisa ter o que Peter Evans chamou de autonomia embutida ou incorporada ("embedded autonomy").

As pessoas que são estudiosas e entusiastas das políticas de desenvolvimento setorial precisam avaliar as nossas experiências passadas, as bem-sucedidas e as malsucedidas, e conseguir estabelecer protocolos mínimos.

Sem aprender com nossos erros e nossos acertos, não teremos fôlego, em razão dos elevados custos fiscais, para tocar políticas de desenvolvimento industrial.

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