É possível que o Viktoria Plzen se classifique na Champions League, no grupo com Barcelona, Bayern e Inter de Milão; é possível que o Qatar avance em seu grupo na Copa do Mundo no fim do ano; é possível que Paulo Sousa seja perdoado pela Polônia; é possível que Batman vença Superman num confronto mano a mano em um ringue com gel verde. Mas é impossível que o Vélez Sarsfield reverta a derrota de 4 a 0 para o Flamengo pela Libertadores, no Maracanã, na próxima semana.
Assim sendo, podemos cravar sem nenhum medo de ter que fazer um "erramos" em edição futura deste jornal: a final do principal torneio do continente será mais uma vez entre clubes brasileiros. De um lado, o Flamengo -que já parece pronto para alçar novos ares e disputar o Campeonato Francês, com boas chances de vice, pelo menos. Do outro, ou Palmeiras ou Athletico-PR, sem favoritismo depois da vitória atleticana no jogo de ida.
E, se por acaso o time alviverde de São Paulo vencer, será sua terceira final consecutiva, uma façanha portuguesa com certeza. Será também a terceira dos rubro-negros em quatro anos. Chance de repetição da final do ano passado.
Tudo muito lindo para os envolvidos, mas e para os outros países? Os times brasileiros se impõem de tal maneira na Libertadores que a competição está quase perdendo a graça. Ou tendo a mesma graça que uma Copa do Brasil. Talvez fosse a hora de aproveitar os 200 anos da Independência e mudar o nome do torneio para Copa Libertadores do Brasil.
Aparentemente, o único time no continente capaz de fazer frente aos brasileiros ainda é o River Plate, o último campeão do continente não brasileiro no longínquo ano de 2018, no mundo pré-apocalíptico, quando ninguém sabia o que era Covid-19 ou quem se sentaria no trono de ferro… o da série também.
Mas neste ano o River fracassou com seus rivais internos, perdeu justamente para o argentino que enfrentou o Flamengo nesta semifinal. "Enfrentou" neste caso é uma figura de linguagem. O jogo de quarta em Buenos Aires foi assustador (do ponto de vista portenho). Pareciam dois times de divisões diferentes, aqueles confrontos das fases iniciais da Copa do Brasil.
Os times brasileiros devem continuar surfando nesta onda continental nos próximos anos, a não ser que algum gênio da Conmebol mude o regulamento. "Vamos colocar todos os brasileiros no mesmo grupo e só passa um, assim evitamos uma final só com eles, que tal?"
Na Europa, alguns anos atrás, parecia que a Inglaterra faria algo parecido, também alavancada pelo poderio financeiro dos clubes da Premier League. Nos anos 2000 teve Liverpool (2004 e 2006), Arsenal (2005) e Manchester United e Chelsea (ambos na final de 2007).
Mais recentemente, os ingleses também estiveram em quatro finais em cinco anos, com direito a duas decisões caseiras: Liverpool x Tottenham, em 2019, e Chelsea x Manchester City, em 2021. Uma diferença é que a Uefa nunca foi tola o suficiente para dar seis, sete, oito vagas para os ingleses -outra diferença é que Real Madrid, Bayern e alguns outros também conseguem fazer frente aos ingleses.
No caso sul-americano, o buraco é mais embaixo. O sucesso do Brasil caminha ao lado de uma crise econômica na Argentina que também enfraquece seu futebol. Uruguaios e colombianos mal conseguem entrar nesta conversa.
Mas, se nada acontecer, em breve River e Boca vão pedir para entrar direto na Sul-Americana. Lá as chances de título aumentam e os rivais brasileiros são um pouco mais amigáveis… Só um pouco.
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