Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tabata Amaral

A queda do mito

Mito de que a farda sozinha é garantidora de boa gestão precisa cair

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Há dez vezes mais brasileiros que dizem confiar muito nas Forças Armadas do que nos partidos políticos, conforme mostrou o Datafolha em julho de 2019. Além disso, superando até mesmo a imprensa e as empresas, o Exército é a instituição com maior confiança tanto entre quem viveu a ditadura quanto entre quem nasceu após a Constituinte. Contudo, o mito do Exército salvador, capaz de colocar o país nos trilhos, vem caindo por terra.

Com a posse do presidente, a farda entrou em cheio no palácio. Dos 21 ministros, nove são militares. Para além do primeiro escalão, um levantamento feito em conjunto com o senador Alessandro Vieira nos mostrou que três vezes mais militares ocupavam cargos de liderança em setembro de 2020 do que no governo Temer.

No Ministério da Saúde, por exemplo, antes havia apenas um egresso das Forças Armadas em um cargo de nível alto. Em menos de dois anos, a quantidade subiu para 30, com Pazuello, militar da ativa, como ministro. No entanto, a presença cada vez maior da farda no Executivo não nos deixou mais bem equipados para enfrentar nossas muitas batalhas. Muito pelo contrário.

Até pouco tempo, o Brasil era reconhecido internacionalmente por suas campanhas de vacinação. Hoje, remessas são trocadas e as doses do Amazonas enviadas para o Amapá. Enquanto seguimos sem planejamento e sem vacinas, descobrimos que diversas ofertas da Pfizer foram ignoradas.

A situação não foi diferente com o Ibama. Conforme alertou um relatório do TCU, as últimas nomeações do órgão, em grande parte de militares, não atendem a critérios mínimos de experiência profissional e acadêmica. O resultado: a Amazônia e o Pantanal foram atingidos pelas maiores queimadas dos últimos anos sem que nenhuma atitude efetiva fosse tomada. Segundo laboratório da UFRJ, só em 2020, 29% do Pantanal foram destruídos.

Até mesmo a ideia —ou desejo— de que os militares controlariam o radicalismo de Bolsonaro foi por água abaixo. Os militares que foram indicados para comandar o Ministério da Saúde, o Inep e a Petrobras, entre tantos outros exemplos, assumiram esses cargos como alternativas a quem havia tentado barrar os ímpetos populistas e negacionistas do presidente, não o contrário.

Aquele que se considera o maior defensor das Forças Armadas corre o risco de ser o maior destruidor de sua reputação. Não faltam no Brasil bons quadros técnicos. Sei também que há no Exército pessoas extremamente competentes e bem-intencionadas. No entanto, esse mito de que a farda sozinha é garantidora de boa gestão, além de extremamente perigoso, é um simples mito. Por isso mesmo precisa cair.

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