A nação imaginada por Bolsonaro é composta por homens de bem com pânico de brochar, mulheres como meros adereços políticos e oponentes extirpados. O panteão bolsonarista do 7 de Setembro --burlesco e descontrolado como um paraquedista caindo desgovernado entre os prédios de Copacabana-- é mais fiel à história do país como ela de fato ocorreu do que o ufanismo do quadro mítico "Independência ou morte!", de Pedro Américo, de 1888.
A cafonice da motociata de Bolsonaro faz as vezes do burro sobre o qual d. Pedro 1º devia estar assentado (e não no cavalo imponente do quadro de Américo) naquele 7 de setembro. Sobre isso, ver o novo livro de Schwarcz, Junior e Stumpf, "O Sequestro da Independência".
A frágil masculinidade do Bolsonaro que precisa de uma multidão para reafirmar sua imbrochalidade casa perfeitamente com uma história masculina em torno de figuras heroicas que pouco heroicas são. Gritava-se liberdade enquanto escravidão e derramamento de sangue persistiam alhures pelo país. Sobre isso, escutar o podcast Querino, de Tiago Rogero.
O imbrochável Bolsonaro resta ainda mais apequenado quando lembramos que a sua reeleição está nas mãos do grupo que mais o rejeita. Todo o falatório fálico de Bolsonaro serve para ocultar o pânico que o governante sente em ter seu projeto de poder sendo decidido pelo grupo ao qual sente mais repulsa, as mulheres. Chamar a si mesmo de imbrochável não é só misoginia grotesca, é desejo de projetar sobre as mulheres --as que mais lhe negam o voto-- um controle que não se tem e que ele nunca terá.
Ao implicitamente eleger "Imbrochável ou preso!" como seu grito de independência, Bolsonaro explicita o gatilho que aciona a sua misoginia: delirante, imagina que controla o voto feminino; porque, afinal, se não o fizer, perderá a eleição e lhe restará responder pela corrupção e pelo morticínio.
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