Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tostão

Muitos profissionais, de todas as áreas, acreditam nas superstições

Após as boas atuações e seis vitórias, voltaram os comentários saudosistas de que o Brasil reencontrou seu estilo, o das décadas de 1960 e 1970. Não é por aí. Todos os titulares, fora Gabriel Jesus, atuam no exterior, no estilo das grandes equipes europeias. Tite é um excelente treinador porque estudou e usa os mesmos conceitos e estratégias que predominam na Europa. Os atletas que chegam à Seleção escutam o que praticam. Antes, com Felipão e Dunga, era diferente.

Este ótimo momento é surpreendente, por ter acontecido muito antes do previsto. Mas era esperado, pela tradição do futebol brasileiro e pela qualidade dos jogadores. Apenas não sabíamos quando aconteceria. Uma queda técnica permanente seria improvável.

Daqui para frente, a Seleção volta à rotina, presente na maior parte de sua história, de ganhar muito, de perder pouco e de fazer parte das melhores seleções do mundo. O luto dos 7 a 1 está superado, como disse o técnico da seleção alemã, Joachim Löw.

Muitos times brasileiros seguirão o modelo usado por Tite, com um trio no meio-campo, formado por um volante mais centralizado e um meio-campista de cada lado, que marcam e avançam. A Argentina, na vitória sobre a Colômbia por 3 a 0, jogou dessa forma, com a entrada do habilidoso armador Banega ao lado de Mascherano e Biglia. Messi atuou da direita para o centro, como faz no Barcelona.

Mas não foi a mudança tática nem a entrada de Pratto que fez a Argentina ganhar da Colômbia por 3 a 0. Foi a magistral atuação de Messi. Poucas vezes, o vi tão vibrante. Recentemente, escrevi que falta a Messi a transformação emocional que acontecia em Pelé nos jogos mais difíceis. Messi, geralmente, é emocionalmente linear e previsível. Contra a Colômbia, foi diferente. Estava possesso, adjetivo dado por Nelson Rodrigues a Amarildo, na Copa de 1962. Será que, daqui para frente, veremos um Messi diferente, ainda melhor?

Um leitor argentino, bastante otimista, entusiasmado com a vitória de sua seleção e com a atuação aguerrida de Messi, me disse que a Argentina será campeã do mundo, por causa do novo Messi –o choro e a decisão de continuar na seleção têm a ver com isso– e porque os jogadores decidiram não falar mais com os jornalistas, revoltados com a notícia de que Lavezzi fumava maconha na concentração.

O mesmo leitor lembrou-me da Copa de 1982, quando os jogadores italianos pararam de falar com a imprensa e foram campeões. Isso estimularia os atletas a terem atuações heroicas. Felipão e muitos técnicos adoram essa tática de provocar os jogadores. Mas o leitor esquece que dezenas de outros times já fizeram o mesmo e não mudaram nada em campo.

O futebol é repleto de superstições e de rituais, como se a crença e a repetição fossem importantes para as coisas darem certo. É o pensamento mágico. Acham que a realidade é o que desejam e pensam. Mesmo profissionais com muito conhecimento científico costumam ter esse comportamento.

Na Copa de 2014, Felipão repetiu, na semifinal contra a Alemanha, a mesma estratégia usada na final da Copa das Confederações, contra a Espanha, no ano anterior, quando as circunstâncias eram bem diferentes.

As superstições e os rituais são também uma maneira de conviver com o imponderável, com a transitoriedade das coisas e com a angústia da finitude da vida.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.