Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

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Txai Suruí
Descrição de chapéu Todas clima

Vivemos uma emergência

A seca que nos assola não deve ser tratada como problema só nosso, do Norte

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Altas temperaturas nos oceanos combinadas com o fenômeno El Niño trazem a maior seca já vivida pela Amazônia. Circulam nas redes sociais imagens chocantes com a morte de centenas de peixes e botos e comunidades ribeirinhas e indígenas ilhadas.

Na semana passada, em Mamirauá, em apenas três dias, mais de cem botos tucuxis e rosas apareceram mortos no rio Tefé, afluente do rio Solimões. Em Manaus, na região de Manacapuru, apareceram toneladas de peixes mortos e a cidade vem sofrendo com as queimadas, infestando a capital com fumaça, registrando a segunda pior qualidade de ar do mundo.

O governo do Amazonas no último 29 de setembro decretou situação de emergência em 55 municípios impactados pela seca. Rondônia e Acre também sofrem os efeitos desse desastre que não é natural e muito menos inesperado. Estamos diante de um evento extremo causado pela emergência climática. A seca até o final de 2023 deve ter meio milhão de afetados.

Nossos mais sábios já avisavam sobre as consequências de continuar tratando a floresta como mercadoria. Eles já podiam sentir as mudanças do clima desde aquele tempo, hoje os povos indígenas e tradicionais continuam sendo os mais afetados. Sofremos com a morte dos animais e sentimos a dor das nossas matas.

As populações mais impactadas são as que menos contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa. Precisamos entender que vivemos uma emergência, mudar nosso sistema de produção e consumo, acabar com o uso dos combustíveis fósseis, demarcar as terras indígenas, proteger cada vez mais nossas florestas e rios é essencial para combater essa crise. A elaboração de medidas de prevenção e adaptação para essas catástrofes climáticas que sofreremos são necessárias para salvar vidas.

Um estudo publicado na revista científica Nature Climate Changes de 2021 constatou que as mudanças climáticas já causavam 1% de todas as mortes no Brasil. No mundo mais de 12 milhões de mortes estão associadas a fatores de risco ambientais a cada ano, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Segundo o IPCC (painel da ONU para o clima), moradores de periferias morrem 15 vezes mais por eventos climáticos extremos. A crise climática é um brutal agravador das desigualdades e violências e um perpetuador da pobreza no mundo.

A seca que nos assola não deve ser tratada como um problema só nosso, da região Norte. A mídia precisa noticiar como um problema nacional, se não só vira um problema de todos quando afeta o Sul ou o Sudeste. Segundo o IPCC, até 2040 os efeitos da emergência climática aumentarão os riscos à humanidade e aos ecossistemas, alguns deles inevitáveis.

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