Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Colheita gaúcha de arroz chega ao fim, mas produtor não fecha as contas

Preços recebidos no campo não remuneram custos de produção, segundo analista

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Colheita de arroz em Dona Francisca (RS)
Colheita de arroz em Dona Francisca (RS) - Cláudio Vaz - 17.mar.10/Agência RBS/Folhapress

A colheita de arroz está praticamente no final no Rio Grande do Sul. Foram colhidos 8 milhões de toneladas, 500 mil a menos do que em 2017.

Colocado o produto nos armazéns, os produtores percebem que este é um ano de comercialização lenta e de negociações muito difíceis.

A saca do produto está sendo vendida entre R$ 35 e R$ 36, um valor que não cobre o custo de produção, próximo de R$ 40. A avaliação é de Vlamir Brandalizze, analista da Brandalizze Consulting, de Curitiba.

Segundo ele, enquanto o consumidor tem o cereal a preços favoráveis, produtor e indústria passam por um período difícil. A tonelada do cereal brasileiro beneficiado é comercializada internamente a R$ 350. Na Ásia, o arroz é negociado por US$ 450, em média.

A persistência do dólar em patamar elevado poderá auxiliar o setor, reduzindo importações. As estimativas são de compras externas de 900 mil toneladas nesta safra.

A descapitalização do produtor faz, contudo, que ele não aproveite essa valorização da moeda americana, uma vez que, para cobrir despesas, é obrigado a negociar boa parte da safra aos valores atuais.

Além disso, o mercado brasileiro está pouco atraente até para os produtores vizinhos (Paraguai, Uruguai e Argentina), tradicionais exportadores para o Brasil. Eles estão buscando mercados alternativos, como os do Irã, da Venezuela e de países árabes.

Após um plantio de 1,1 milhão de hectares de arroz nesta safra, Brandalizze prevê que a área destinada ao cereal fique abaixo de 1 milhão de hectares na próxima.

O problema, segundo ele, é que está havendo uma depuração no mercado. Produtores e indústrias menos competitivos estão saindo da atividade, o que pode levar a uma concentração perigosa nos próximos anos.

Se esse cenário se confirmar, o pacote de arroz, que está entre R$ 8 a R$ 12 nos supermercados, deverá girar em torno de R$ 15 a R$ 20 nos próximos anos.

O mercado ficará nas mãos de produtores e indústrias capitalizados, que vão controlar vendas e buscar margens maiores.

O cereal já está deixando de ser atrativo para parte dos produtores, que buscam renda na soja. A saca de soja da safra 18/19 para entrega em maio do próximo ano —a oleaginosa ainda será semeada no segundo semestre— está sendo negociada a R$ 87. Esse valor corresponde a 2,4 vezes o da saca de arroz. 

“Não me lembro de ter visto uma paridade tão elevada a favor da soja”, diz o analista.

Para ele, uma saída para o país é criar um mercado cativo de exportações. O produtor tem capacidade de produzir mais e as indústrias, com capacidade de processamento de 14 milhões de toneladas por ano, industrializam apenas de 11 a 12 milhões.

O aumento das exportações, no entanto, passa pelo governo. Não existe uma logística favorável às vendas externas do arroz porque os portos ficam à mercê da soja. O governo deveria permitir à inciativa privada abrir caminhos para a exportação de arroz, segundo ele.

Enquanto isso, o setor vai reduzindo área de plantio e o país poderá ficar cada vez mais dependente do mercado externo.

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