Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Adubo dispara no mercado externo e compromete custos de produção em 2022

Estudo mostra que preços dos adubos estão em patamares próximos aos do pico de 2008

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O Brasil aumenta o uso e as importações de fertilizantes exatamente em um período de intensa escalada de preços no mercado externo. Alguns produtos acumulam altas de até 83% em 12 meses.

O reflexo imediato será uma elevação forte no aumento de custos, principalmente no próximo ano. Essa alta vai pesar tanto no bolso dos norte-americanos como no dos brasileiros, dois dos principais responsáveis pela oferta de grãos no mundo.

Estudo feito por economistas do Farmdoc, da Universidade de Illinois, mostra que os preços atuais dos adubos estão em patamares próximos aos do pico de 2008.

O DAP (fosfato diamônico) subiu 83% do fim de julho do ano passado ao mesmo período deste ano, em Illinois (EUA). No Brasil, o MAP (fosfato monoamônico) acumulou alta de 65% apenas no primeiro semestre deste ano.

Pulverização em lavoura de soja
Pulverização em lavoura de soja no Mato Grosso - Folhapress

O potássio aumentou 71%, e a amônia, 53%, nos últimos 12 meses, segundo economistas do Departamento de Economia Agrícola e do Consumidor da universidade de Illinois.

Natália Fernandes, coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), diz que a pressão também é grande para o produtor nacional.

Cálculos da entidade mostram que, além do fosfato, as altas acentuadas ocorrem também com o KCI (cloreto de potássio), que teve evolução de 57% no primeiro semestre. Superfosfato simples e ureia acumulam 52% e 41%, respectivamente, no período.

A alta atual dos preços imita a do período de 2008, quando fertilizantes e commodities estiveram em patamares recordes. A demanda por alimentos continua forte, principalmente em países emergentes, o que eleva os preços e incentiva o produtor a plantar mais.

Um exemplo disso é o Brasil. De 2010 a 2021, a área semeada com grãos aumentou 45%. Só nos últimos três anos, o aumento foi de 11%. Primeiro, os produtores se voltaram para a soja, cuja área aumentou 64% de 2010 a 2021. Esse movimento foi mais intenso de 2010 a 2018, quando acumulou crescimento de 50%.

Mais recentemente foi a vez do milho, que teve evolução de 19% na área plantada apenas nas últimas três safras, conforme a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Com isso, as importações de adubo aumentaram 189% desde 2010. Naquele ano, o país comprou 7,1 milhões de toneladas de fertilizantes de janeiro a julho. Neste, foram 20,5 milhões, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Apenas nas últimas três safras, o aumento foi de 58%.

Os gastos, que eram de US$ 2,3 bilhões nos sete primeiros meses de 2010, estão em US$ 5,9 bilhões no
mesmo período deste ano.

Fernandes, da CNA, diz que essa alta expressiva no mercado internacional ocorre devido à redução na oferta de alguns produtos. No caso da ureia, a China está produzindo menos, e a Índia, consumindo mais.

Houve ainda uma baixa na oferta de amônia e uma demanda maior de fosfatados. E isso vai pesar no bolso do produtor brasileiro. O impacto dos fertilizantes no custo operacional da soja é de 23%, enquanto no do milho sobe para 33%.

Desafio maior terão os produtores cujos preços de sua atividade não acompanham a alta dos fertilizantes. Entre eles estão as hortaliças, que dependem do mercado interno. Desemprego alto e renda baixa inibem as vendas.

O fertilizante importado chega ao Brasil também com o peso do dólar valorizado e dos fretes marítimos. Estes em constante elevação, segundo Fernandes.

Será um período de gestão de risco. Os custos estão elevados, mas não se sabe o que ocorrerá com os preços das commodities.

Em 2008, os fertilizantes seguiram as commodities, que, após um período de alta, recuaram com a crise financeira mundial no final daquele ano.

Uma coisa é certa para os economistas da universidade de Illinois: a alta atual vai pressionar os custos de 2022 do milho e da soja.

Os gastos com fertilizantes, tanto no cereal como na oleaginosa, vão se aproximar dos de 2012 por lá, quando foram de US$ 200 e US$ 68 por acre, respectivamente.

Tanto Fernandes quanto os economistas do Farmdoc acreditam que exista uma tendência de alta nos preços dos fertilizantes. Este, portanto, será um período em que o produtor deverá ter uma boa gestão de sua atividade, antecipando compras, assim que for conveniente, e utilizando ferramentas de mercado para mitigar riscos.

Para levar informações sobre mercado, riscos e como se proteger em suas operações, a CNA está buscando parceria para a realização de um curso que dê aos produtores visão de todas essas ferramentas.

Será um curso prático e bastante acessível, diz Fernandes.

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