Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities

O potencial de produção de trigo no país é bom, mas há desafios

Entre as dificuldades estão combate a doenças, desenvolvimento de novas variedades e estruturação da cadeia em novas regiões

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O país está despertando para o trigo, e as perspectivas de crescimento são consistentes. O Brasil precisa, no entanto, resolver problemas específicos de cada região.

Para Roberto Rodrigues, coordenador do FGVAgro e ex-ministro da Agricultura, o cerrado, a partir de agora, e em definitivo, está no caminho do trigo. A tropicalização do cereal é garantia de crescimento.

A área de plantio está disponível no cerrado, mas a Embrapa precisa ainda fazer alguns acertos contra doenças que afetam a cultura e adaptação de variedades, embora já tenha cultivar que renda próximo de dez toneladas por hectare na região.

Máquina agrícola durante colheita de trigo em Toledo (PR). - Claudio Gonçalves - 28.ago.08/Folhapress

Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, diz que um dos desafios é o controle da brusone, uma doença que se manifesta com manchas nas folhas e branqueamento e morte das espigas na áreas quentes.

O cerrado exige, ainda, variedades com poder de tolerância ao estresse hídrico. O tema foi discutido no 29º Congresso do Trigo da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo).

A tropicalização do trigo no Brasil exige, ainda, um avanço da cadeia desse cereal para as novas regiões, que inclui desde o Centro-Oeste ao Norte e Nordeste.

No Sul, o ataque é da giberela, um fungo que deixa a planta doente, podendo comprometer tanto o volume como a qualidade do cereal. O aparecimento dessa doença depende muito das condições climáticas.

A Embrapa está desenvolvendo também novas variedades para o plantio de trigo destinado ao consumo animal. O plantio se dá no período de inverno no Sul, quando parte das terras do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande Sul ficam inativas.

A pesquisa pode dar ao produtor uma cultura competitiva e que consiga, inclusive, disputar espaço com outros cultivos, como o milho.

Carlos Hugo Godinho, do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná, estado que reduziu a área de trigo para 1,18 milhão de hectares neste ano, credita essa perda à opção do produtor pelo milho, em geral mais rentável.

A produtividade do trigo no Paraná pode ultrapassar 3 toneladas por hectare em várias regiões. O preço deste cereal, para trazer rendimento melhor do que o do milho, no entanto, tem de superar em 1,8 vez o valor do milho. Daí a opção maior do produtor pelo milho, e não pelo trigo no estado.

Nos patamares atuais de preços desses dois cereais, o trigo, mesmo sendo negociado a R$ 92 por saca, ainda tem rendimento inferior ao do milho, que vale R$ 84.

No Rio Grande do Sul, a conjugação de uma série de fatores está melhorando a atividade no estado, segundo Hamilton Jardim, coordenador da Comissão de Trigo e Culturas de Inverno da Farsul.

O trigo gaúcho, com a melhora na qualidade, passou a ter maior aceitação no exterior, segundo Jardim. Os dados deste ano apontam um volume recorde das exportações. A qualidade é importante também para atrair mais os moinhos nacionais, afirma.

Convênios entre a indústria de produção de proteínas, como a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), e entidades representantes de produtores vão incentivar a produção de trigo, triticale, aveia e outros cereais de inverno.

Jardim diz que a aposta no aumento da produção de trigo no estado vem também da demanda da indústria de etanol, que se inicia e utiliza cereais de inverno.

O Rio Grande do Sul, ao contrário do Paraná, elevou a área de trigo neste ano. Foi semeado 1,45 milhão de hectares, 12% a mais do que em 2021. A produção deverá saltar para o recorde de 4,9 milhões de toneladas, o que permitirá ao país atingir um volume nacional próximo de 9,6 milhões de toneladas.

Apesar da alta dos custos, o produtor gaúcho ainda terá reembolso financeiro, segundo o representante da Câmara de Trigo. Para Godinho, do Deral, o desafio será a pressão de custos para a próxima safra.

O potencial de produção de São Paulo também cresce. O estado, que produzia apenas 90 mil toneladas há duas décadas, deverá atingir de 400 mil a 450 mil toneladas, segundo Ruy Zanardi, presidente da Câmara Setorial do Trigo de São Paulo.

Embora a busca no estado seja por um produto de qualidade e dentro das exigências dos moinhos, o estado tem capacidade para elevar essa produção para um patamar próximo de 800 mil toneladas nos próximos anos, afirma Zanardi.

Mesmo com produção bem inferior à do Paraná e do Rio Grande do Sul, São Paulo tem a cidade com o maior valor de produção de trigo do país. Essa liderança, segundo o IBGE, pertence a Itapeva, que registrou R$ 206 milhões em 2021.


Embrapa Os recursos para pesquisas na Embrapa estão curtos. Além de pouco, a empresa tem de gastar muito em custeio para manter os compromissos já assumidos.

Embrapa 2 O ministro da Agricultura Marcos Montes diz que realmente seria necessário um volume maior, mas os investimentos precisam ter uma fonte legal.

Embrapa 3 O governo prejudicou, no bom sentido, alguns setores, mas para um bem maior, afirma. Não adianta passar recursos em patamar maior se o país vai ter dificuldades lá na frente. É preciso cumprir a responsabilidade fiscal, disse no 29º Congresso de Trigo da Abitrigo.


O jornalista viajou a Foz do Iguaçu (PR) a convite da Abitrigo

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.