Além das perdas econômicas com uma guerra que dura mais do que a Rússia imaginava, o país terá sérios problemas com as exportações de trigo, enquanto persistir o conflito com a Ucrânia.
Os russos são um caso de sucesso na evolução da produção do cereal na última década. Na safra 2012/13, produziam 38 milhões de toneladas, volume que vem crescendo e deverá atingir 91 milhões em 2022/23.
Com o aumento da produção, o país teve um potencial crescente de exportação. Nesta safra 2022/23, o volume deverá atingir 42 milhões de toneladas. O problema russo é para quem vender.
A guerra trouxe dificuldades de vendas externas não só para os russos, mas para os demais países do Mar Negro, que sofrem também os efeitos das condições econômicas mundiais.
O aumento das taxas de juros traz uma desaceleração econômica, e o dólar em alta aumenta as dificuldades de exportações.
A Rússia terá um volume recorde de trigo para exportar, mas tem problemas para encontrar mercado para seu produto, devido ao bloqueio feito por vários países, após a invasão da Ucrânia.
O pior é que os russos não têm um sistema de armazenagem suficiente para guardar todo esse excedente, segundo o consultor Pablo Maluenda, da PMCG, que participou do 29º Congresso da Abitrigo, evento que se realiza em Foz do Iguaçu (PR).
Ucrânia e Rússia têm capacidade para exportar 53 milhões de toneladas de trigo nesta safra 2022/23. Esse volume representa 25,4% do total de 208,9 milhões que são comercializados no mercado mundial, segundo Maluenda.
Com a guerra, o potencial de exportação da Ucrânia caiu para 11 milhões, após ter atingido 18,8 milhões no período anterior.
O desempenho da Rússia no comércio mundial será importante para uma definição de preços internacionais. Se o país não conseguir exportar seu cereal, os preços dos outros países exportadores, como Argentina, vão superar os valores do produto russo. Caso contrário, os russos determinarão os valores de mercado.
A Argentina deverá produzir 19 milhões de toneladas na safra 2022/23, abaixo do volume do período anterior. As exportações serão de 13 milhões de toneladas, produto que será vendido para um grupo maior de países do que há alguns anos.
Os argentinos estão conseguindo novos mercados, como Chile, Equador, Peru, Colômbia e países da África e da Ásia. A participação brasileira caiu e está em 26,1% das vendas externas do país.
Mas a Argentina tem estoques elevados, e as compras para exportação já atingem 8,8 milhões de toneladas do trigo que ainda está no campo. Os argentinos também vão ter de buscar mercado para esse volume de trigo.
No caso brasileiro, os dados ainda estão bastante incertos, mas Maluenda diz que há apostas no mercado de um potencial de até 12 milhões de toneladas, volume igual ao do consumo.
União Europeia e Estados Unidos vêm reduzindo a produção de trigo, afirmou o consultor no congresso da Abitrigo. No caso americano, a forte opção pelo etanol de milho reduziu a área de plantio do trigo.
Já os europeus passaram a importar mais da Ucrânia e destinaram a área anterior dedicada ao trigo para outras culturas.
O jornalista viajou a Foz de Iguaçu (PR) a convite da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo)
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