Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

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Vinicius Mota

Candidato com poder de fogo não está bem na pesquisa

Bolsonaro e Marina, com poucos recursos de campanha, apostam na incógnita das redes sociais

O fim das convenções nacionais consolida uma distribuição desigual dos recursos de campanha entre as principais candidaturas. O quadro contrasta com a situação das pesquisas, inalterada há meses.

Quem tem mais poderio em termos de dinheiro do fundo eleitoral, exposição na TV e capilaridade partidária não desponta no Datafolha. É o caso de Alckmin e do poste a ser nomeado da cadeia por Lula.

A condição material para fazer campanha dos líderes na pesquisa, Bolsonaro e Marina, é invisível a olho nu. Apostam na força eleitoral de uma incógnita chamada redes sociais.

Donald Trump foi eleito nos EUA pela força subterrânea dessas correntes digitais de opinião enviesada ou porque estava embalado na poderosa máquina do Partido Republicano? A segunda hipótese tem demonstrado maior poder explicativo.

Estudo de Levi Boxell, da Universidade Stanford, e colegas sugere que em 2016 a preferência por Trump nos grupos menos ativos online foi no mínimo tão grande quanto —mas provavelmente maior que— vinha sendo a sua adesão aos candidatos republicanos desde 1996.

Por outro lado, os Estados Unidos não experimentaram nada parecido com a dilapidação da confiança nos partidos estabelecidos e nas instituições representativas que ocorre no Brasil desde 2014. Aqui os efeitos da Lava Jato foram catalisados por uma recessão longa e profunda, que parece desaguar agora na estagnação da renda com desemprego alto.

Nesse ambiente adverso, a força inercial de PT e PSDB, que polarizam a disputa federal desde 1994, conseguiu exercer uma filtragem notável das excentricidades antes mesmo do início da campanha. Bolsonaro foi minado a mais não poder pelas articulações tucanas. Ciro, bem mais próximo do statu quo partidário, foi asfixiado pelas negociações petistas.

A ver como se desenrola o torneio daqui para a frente. Parece mais uma corrida de 100 metros, e não a etapa final de uma maratona, como vinha ocorrendo nos últimos 24 anos.

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