Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu petrobras

Autoridades, empresas e economistas dão sinais de desconfiança final em Bolsonaro

Bolsonarice de meter o 'dedo' no setor elétrico e as botas na Petrobras ainda rende

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Governos, prefeitos e empresas querem comprar vacinas. Articulam politicamente as autorizações formais. Em parte, já foram concedidas por decisão do Supremo e ainda podem se tornar lei de iniciativa do Senado, que Jair Bolsonaro já ameaça vetar ao menos parcialmente.

É um sinal óbvio e agora levado às vias de fato, por assim dizer, de que acabou a confiança que poderia restar na capacidade do almoxarifado da Saúde de comprar vacinas a fim de acelerar a imunização.

É apenas um dos sinais de descrédito terminal.

O governo avalizou proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza a renovação do auxílio emergencial, a criação de um sistema novo de decretação de estado de calamidade nacional e estipula medidas de contenção do aumento de gastos, grosso modo com servidores e outras despesas obrigatórias, além de acabar com o piso de despesa em saúde e educação. Não há medidas de redução de despesa, ressalte-se.

É possível que não passe nada além do auxílio emergencial dessa emenda que nada mais é do que o resto lipoaspirado e amputado de um pacotaço de PECs enviadas pelo governo ao Congresso em 2019.

O governo não tem articulação política. Paulo Guedes acha que pode “colocar granadas no bolso do inimigo”, passar medidas com truques, pegadinhas e “planos infalíveis”. Não vai. Talvez fiquem na PEC as medidas de contenção de despesa que evitem a explosão do teto de gastos ou a paralisia da máquina pública —e olhe lá. Parlamentares já querem deixar também esse assunto para depois, aprovando apenas o auxílio emergencial.

Bolsonarices paralisam a política. A arenga selvagem do deputado bolsonarista “Daniel do Quê?”, o Massaranduba, ainda rende. O Congresso se dedicava nesta quarta (24) a aprovar a PEC da impunidade, protegendo parlamentares de quase qualquer barbaridade que cometam durante o mandato e ANTES TAMBÉM. É a lei Massaranduba-Flávio Bolsonaro.

A bolsonarice de meter o “dedo” no setor elétrico e as botas na Petrobras ainda rende. As taxas de juros no atacadão de dinheiro estão nos níveis mais altos desde o pânico de março de 2020, início da pandemia. Isto é Bolsonaro: encarece investimento privado, o crédito e a dívida do governo.

Empresas de setores sujeitos mais à mão grande, peluda e visível do governo estão dizendo que devem ir para a retranca (infraestrutura: concessões de transportes, saneamento, energia etc.) Isto é Bolsonaro: prejudica investimentos criando incerteza.

Affonso Celso Pastore, um economista muito respeitado entre seus pares “mainstream” (“liberais”, “ortodoxos”, o nome que se dê) e entre empresários, deu nesta quarta-feira uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em que praticamente pede ao setor privado que se revolte em público contra o estrago bolsonarista na economia. Disse ainda que Bolsonaro é um populista com propensão a ser ditador.

O show da privatização da noite de terça (23) não colou muito, principalmente entre parlamentares. Bolsonaro e ministros foram ao Senado entregar de modo espalhafatoso e cafona a medida provisória (MP) da privatização da Eletrobras, para “prestigiar” Paulo Guedes.

Até ontem, a maioria dos parlamentares era contra a venda companhia; não há nova articulação do governo para vencer essa barreira. Para piorar, a privatização, além do mais lançada por meio de MP, pode acabar nos tribunais. Mais: algumas das patadas de Bolsonaro na Petrobras vão acabar na Justiça.

Como se já não tivesse feito estrago bastante, Bolsonaro e bolsonarismos arruínam o início do novo ano.

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