Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Correção da tabela do IR pode sair ainda durante a campanha de Bolsonaro

Paulo Guedes tocou no tema e pessoal do Planalto diz que é assunto de campanha

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Jair Bolsonaro pode corrigir a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física ainda neste ano. Paulo Guedes, falou no assunto nesta quinta-feira (7), em evento do Bradesco. Pode ser uma daquelas ideias "na semana que vem" ou "em noventa dias", típicas do ministro. Mas o pessoal do Planalto encarregado da campanha do governo ou do governo em campanha diz que, sim, pode sair até por medida provisória.

A ideia de corrigir o IR parecia morta desde que o projeto do governo de mexer no Imposto de Renda em geral, aprovado na Câmara em setembro, havia naufragado no Senado, como de resto a reforma tributária inteira.

Sentado e de terno e gravata, o presidente Jair Bolsonaro (esq.) conversa ao pé do ouvido com o ministro da Economia, Paulo Guedes
O presidente Jair Bolsonaro (esq.) e o ministro da Economia, Paulo Guedes - Ueslei Marcelino - 11.mar.22/Reuters

O senador Ângelo Coronel (PSD-BA), engavetou o projeto do Executivo, aprovado pelos deputados, e propôs um outro, com isenção para rendimentos de até R$ 3.300 (atualmente, a isenção vai até R$ 1.903,98), entre outras mudanças.

Esse projeto foi detonado pelo ministério da Economia, pois custaria caro, uma perda de arrecadação de mais de R$ 35 bilhões por ano. Agora, Guedes volta a falar no assunto, do IRPF (mudança no IR das empresas não vai sair).

Segundo um assessor palaciano, Bolsonaro quer, claro, a mudança, que pediu para já. Guedes não dissera "não", de acordo com esse assessor. Ficara de estudar, "alguma coisa daria para fazer".

Guedes embalou a promessa do benefício naquela conversa de "devolver recursos à sociedade". "Conversamos se vamos corrigir a tabela do IR agora ou se deixamos para a primeira ação de novo governo. Não queremos usar toda a alta de arrecadação de uma vez. Vamos devolver apenas parte para não corrermos riscos fiscais", disse.

Não importa se a arrecadação foi maior do que se previa. O governo continua a ter déficit primário (gasta mais do que arrecada mesmo desconsiderada nesta conta a despesa com juros da dívida pública). O déficit total, "nominal", é ainda maior e será crescente, dada a alta da conta de juros (a não ser que a inflação despenque amanhã e o PIB passe a crescer como não cresce faz mais de décadas).

Em suma, quanto menos arrecadar de imposto, mais o governo terá de pedir emprestado, dando assim mais dinheiro a ricos, de resto sem beneficiar os mais pobres (que não pagam Imposto de Renda justamente por falta de renda).

Guedes falou também de tocar a renegociação de dívidas de empresas do Simples. Enquanto tiver bambu, tem flecha (isto é, enquanto o governo não bater no limite de déficit primário deste ano, vai torrando mais). Teve redução de imposto de combustível, uma reduçãozinha de IPI. Teve a liberação de saque especial do FGTS (não altera o déficit). Vai ter o auxílio-endividamento (crédito consignado maior e para mais gente, o que não vai prestar, mas dá uma ilusão de alívio de desespero).

Na quarta-feira, Bolsonaro anunciou ele mesmo o fim da "bandeira de escassez hídrica", o extra na conta de luz em tempos de seca e de geração de energia cara. A medida foi antecipada em 15 dias. Entra em vigor no próximo dia 16 e pode reduzir a conta de luz, em média, em uns 17%.

O povo ainda não viu a mudança, mas vai notar e o governo vai bater bumbo. Não é grande coisa, mas a penúria é grande, coisa em que os mais ricos da "opinião pública" não prestam muita atenção.

Enquanto Lula da Silva (PT) passou a falar muita bobagem e a "Terceira Via" acaba de implodir o resto de sua base eleitoral pífia, Bolsonaro vai buscando uns pontos de pesquisa ali, outros aqui, fazendo déficit para bancar esses votos. E sua campanha mal começou. A "guerra cultural" e a trituração de Lula ainda vêm aí.

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