Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Lula tem de expor muito mais a herança maldita de Bolsonaro

Governo precisa denunciar crime em vacinas, educação, estatais, estradas e muito mais

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O massacre dos yanomami é o exemplo mais horroroso da herança maldita de Jair Bolsonaro. Foi exposto por jornalistas da plataforma Sumaúma, baseada em Altamira, Pará, zona de guerra social e ambiental, de pistolagem contra líderes de movimentos populares e de destruição da vida em geral. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva pegou o bastão da denúncia e toma providências para conter o genocídio e a razia de matas, terras e águas.

Governo não é polícia nem promotoria, mas tem a obrigação legal de documentar e denunciar os responsáveis pelos crimes ao sistema de Justiça. Se fizer uma varredura elementar, vai encontrar facilmente outros ataques contra indígenas.

À beira da calçada, em Boa Vista, capital de Roraima, cinco indígenas da etnia Yanomami se alimentam.
À beira da calçada, em Boa Vista, capital de Roraima, indígenas da etnia Yanomami comem alimentos recebidos via doação. - Michael Dantas/AFP

No entanto, os ataques contra a vida, a negligência criminosa e a violência ignara contra a competência e a decência humana básicas foram muito além nos anos de trevas. Daqui a algum tempo, há o risco de que o governo Lula, como qualquer outro, entre na rotina e seja absorvido por dificuldades e crises ou conveniências políticas. Assim, a denúncia bem documentada dos anos de trevas pode se tornar apenas um slogan esquecido, "sem anistia".

Algumas barbaridades estão à vista de todos, faz tempo. A taxa de vacinação das crianças começou a cair a partir de 2015. Nos anos de trevas de Bolsonaro, baixaram a níveis críticos e criminosos. É possível que a desordem causada pela epidemia tenha contribuído em parte para o problema, que, no entanto, piorava muito logo antes da explosão da Covid.

A taxa de vacinação contra a paralisia infantil andava pela casa de 98% de 2011 a 2015. Baixou a 84% em 2016. Em 2021, dado mais recente disponível, para 69%. No caso da tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola), era de quase 100%. Em 2021, de 73%. Etc.

Bolsonaro e milícias fizeram campanha contra vacinas, óbvio. Mas quais foram os responsáveis pela negligência na administração, dominada por tantos médicos bolsonaristas e por generais e coronéis?

Como está a investigação da facilitação de compra de armas, mesmo pelas normas depravadas do bolsonarismo? Como azeitou o tráfico de armas para o crime? Quem levou dinheiro do lobby?

O governo Lula está prestes a confirmar o domínio da política negocista sobre a Codevasf, agência de desenvolvimento do interior fantasiada de estatal, por conveniência administrativa. É feudo de PP e União Brasil, concedido por Bolsonaro, local de desova de emendas parlamentares e investigado por Polícia Federal e TCU. É um vulcão de escândalos prestes a explodir. A lava escorrerá no governo petista.

Lula diz que a Advocacia-Geral da União vai entrar com uma ação contra a privatização da Eletrobras, aliás judicializando a política, o que prometeu não fazer. Quer ter controle sobre a ex-estatal. Nada diz sobre o lobby que embutiu na lei da porca privatização favores a empresários graúdos, como nada disse sobre tantas benesses que o Congresso concede a certos lobbies do setor de energia.

O que o governo já sabe sobre o desmonte do Inep e sobre as verbas dos pastores adoradores do ouro no ministério da Educação? Sobre o descalabro do Enem?

O que se sabe sobre a manutenção de estradas e infraestrutura de transporte em geral, que daqui a pouco vão se esfarelar, talvez ainda sob Lula? De mais notório, o governo petista até agora dedicou-se mais a tratar de juros e dívida, de modo desinformado, contraproducente e politiqueiro.

Não é possível ter um programa de governo, na prática, sem saber o tamanho do desastre (com o que vai se saber também dos responsáveis). Os criminosos do bolsonarismo ficarão impunes e prontos para voltar, em 2024 ou 2026, se nada for feito para responsabilizá-los.

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