Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu juros Banco Central

Brasil vai para arrocho exagerado de juros por causa de tretas tolas

Baixa de juro depende de recessão mundial, asfixia no crédito no país e de plano fiscal de Lula, diz BC

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O Banco Central não deu a mínima para a falação do governo e outros críticos da taxa de juros. Fez questão de dizê-lo em várias das entrelinhas do comunicado em que anunciou sua decisão de manter a Selic em 13,75%. O BC nem mencionou a possibilidade de corte. Apenas citou a possibilidade de baixa da inflação caso a economia, aqui e lá fora, vá à breca.

Para quem se interessa pela política politiqueira da conversa econômica, este é o resumo da ópera.

O que o governo pode fazer? Como diz o clichê sobre o judô, usar a força do "adversário" para virar o jogo (sobre credores e sobre quem espera inflação alta). Se vier mais reação estabanada ou agressivamente maluca (mais gasto obrigatório, decretar juros e preços baixos etc.), a situação piora.

Sindicalistas mobilizados na avenida Paulista. Carregam bandeiras vermelhas, brancas e roxas, uma faixa com a frase "fora, Campos Neto" e um cavalo de apelão, em alusão à armadilha grega. Campos Neto seria o cavalo de Troia de Bolsonaro.
Ato contra juros altos na manhã de terça-feira (21) na avenida Paulista, em São Paulo. - Danilo Verpa/Folhapress

Sim, é bem possível que a economia vá ter falta de ar em breve. Maio? Vamos para um arrocho provavelmente exagerado por causa de querelas e ideias tolas e ignaras.

Ainda que a Selic baixasse logo e até 12% em dezembro, a situação mudaria da água para água com uma colherada de vinho. Melhora, claro, mas o problema básico não está aí.

Mas o governo acha que baixando decretos ou trocando a palavra "gasto" por "investimento", essas bobices, a coisa se resolve. É uma conversa muito primitiva e rudimentar.

O que pode fazer com que a inflação caia abaixo do que ora prevê o BC?

Nova queda dos preços das commodities, em reais: 1) o dólar tem de ajudar também; 2) Economia mundial esfriar mais do que o esperado, em especial por causa do tumulto financeiro; 3) No Brasil, arrocho de crédito maior do que o normalmente esperado.

O recado por ora é: só vai ser bom se for ruim. Note-se, de resto: mesmo com tais riscos, o BC não tratou de corte de juros.

Sim, ajuda se o governo aparecer com um plano duro de limitação de gastos e dívida —"duro mesmo" não vai acontecer. A novidade do BC foi a menção à asfixia de crédito —pode acontecer.

Pelos números cuspidos pelos modelos do BC, a Selic permanecerá em 13,75% até o dia de São Nunca, de tarde. Isto é, o IPCA apenas chega à meta de 3% de 2024 se a Selic continuar onde está até o final do ano que vem (é o chamado "cenário alternativo" do BC). Não deve ser tão ruim assim, mas esse é o alerta.

Não houve surpresa na decisão, na exposição de motivos ou na análise de conjuntura apresentados pelo BC, que seguiu o manual.

A expectativa de inflação de "o mercado" para 2023 e, mais relevante, para 2024, está "desancorada". Ou seja, aumentou desde a reunião anterior do Copom (início de fevereiro). Na verdade, praticamente parou de subir desde o início de março, mas estacionou nas alturas.

A previsão de inflação acumulada em 12 meses até o terceiro trimestre de 2024 é de 3,8% (piorou), sob a premissa de que a Selic caia como previsto pela mediana das projeções de economistas (é o "cenário de referência" do BC).

Há riscos de inflação ser maior do que a esperada, diz o BC, pois a carestia mundial pode ser persistente, há incerteza fiscal e "desancoragem" maior ou mais duradoura de expectativas de inflação.

O BC até começa sua exposição de motivos citando o sururu global. Logo em seguida, porém, diz que a atividade econômica e a inflação resistem. Seus pares nos Banco Central Europeu e no Fed, o BC americano, acreditam que o risco de inflação é maior do que o de crise na finança e seus efeitos recessivos ou convulsivos. O BCE elevou os juros na semana passada. Tem feito questão de dizer que crise financeira e inflação são temas que podem ser tratados à parte. O Fed disse nesta quarta que o tumulto bancário pode reduzir o crescimento e, talvez, assim, a inflação, mas é cedo para saber.

Aqui, não tem sinal de refresco.

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