Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Empresas fazem fila para pedir socorro e dinheiro a Lula e Haddad

Agro, aéreas falidas, setor de eventos e turismo, siderúrgicas etc. pedem ajudas variadas ao governo

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O ano da política politiqueira vai começar quente para Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad. Haverá turumbamba logo de cara porque o Congresso reclama cargos atrasados; porque quer reaver emendas que Lula vetou, porque está fulo com medida provisória que derrubou decisões parlamentares reiteradas, porque a bancada religiosa não quer que mexam com suas prebendas etc.

O ano da política empresarial havia começado doce, ao menos para indústrias que esperam receber crédito mais fácil. Mas ficou logo azedo para o governo, esculachado por reeditar a política industrial de Lula 2 e Dilma 1 —não foi bem isso, mas "imagem é tudo".

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encerramento do evento em homenagem ao Dia da Indústria. Lula está à frente do slogan "indústria forte, país forte".
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encerramento do evento em homenagem ao Dia da Indústria - Ricardo Stuckert/Presidência da República

O ano vai ficar mais difícil porque empresas e setores formam fila no Planalto e na Fazenda a fim de pedir socorros variados. Quem pede?

Fazendeiros de grãos, o pessoal do leite. O agro que quer mais subsídio para o seguro rural. "Fazendeiros do ar", as companhias aéreas, algumas quase falidas, que pedem subsídio grosso na veia das asas.

A lista não acabou. Há o caso das siderúrgicas, que reclamam da avalanche de importações de aço, da China em especial. Há as empresas que perdem benefícios fiscais com a desativação do Perse, daqui a dois anos. Esse "Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos" foi criado em 2021, na epidemia, quanto tais negócios foram arrasados (embora não seja mais assim). Era para durar dois anos. O Congresso prorrogou.

Pelo menos 35 entidades do setor criticam Haddad e o fim do programa, decidido via medida provisória no final do ano. São agências de viagem, hotéis e resorts, empresas de formaturas, de eventos, feiras e congressos, de turismo, de cenografia e estandes, de festivais, de produções musicais, de cruzeiros, cinemas, parques. O subsídio custou pouco mais do que R$ 16 bilhões em 2023, diz o governo. O comando da Câmara quer restaurar o programa.

Tem mais. Tem os 17 setores que podem perder o desconto no pagamento de imposto sobre a folha salarial ("desoneração"), derrubado de novo por medida provisória no final do ano passado. Mais na surdina, tem a indústria naval, que pode conseguir um crédito oficial extra.

Agricultores reclamam de perdas com "eventos climáticos" (secas, calores e chuvas demasiados), da queda do preço das commodities, de custo alto de produção, de dívidas. Querem crédito subsidiado para capital de giro, adiamento de débitos com financiamentos da safra 2023/24 etc. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tem dito que virá ajuda do governo. A Confederação da Agricultura e da Pecuária mandou nesta semana um listão de pedidos para o Planalto.

Desde o ano passado, o agro também pede mais subsídios para o seguro rural. Com acidentes climáticos recorrentes, fica claro que o planejamento de riscos de plantio e de seguros é precário, para dizer o menos. Apenas dar subsídio, se é o caso, não resolve, porém.

Houve de fato maré de importações de aço da Ásia em 2023. As siderúrgicas dizem que podem parar parte da produção. Desde o ano passado, querem imposto maior sobre aço importado.

O pessoal das indústrias consumidoras de aço retruca que a tarifa extra vai encarecer o produto deles. Que as siderúrgicas reclamam de barriga cheia. O pessoal do leite também se queixa de importações; diz que um benefício fiscal para empresas compradoras de leite nacional, aprovado em 2023, vai chegar tarde.

Alguns desses lobbies têm bancadas no Congresso, como o agro. Outros não tem tanta força, mas podem arregimentar parlamentares bastantes para criar mais problema político para Lula e Haddad. O governo, porém, tem alguma culpa no cartório dos lobbies. Não raro, um ministro ou similar sai por aí a dizer que é preciso socorrer ou apoiar a empresa nacional. Pois então.

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