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Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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O que esperar das redes sociais nas eleições?

Picos de menção na mídia reforçam o caráter multiplataforma da comunicação eleitoral

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Pedro Bruzzi

É doutorando em Administração Pública (FGV/EAESP) e pesquisador no FGV Cepesp

Leonardo Barchini

É doutorando em Administração Pública (FGV/EAESP) e pesquisador no FGV Cepesp

Já há algum tempo as redes sociais são percebidas como um importante instrumento de conversão de votos nas campanhas eleitorais. A primeira delas foi a de Barack Obama, em 2008, quando as redes ainda tinham alcance limitado.

Houve momentos em que as redes foram entendidas como preponderantes, como a eleição de Trump, em 2016, ou o plebiscito do Brexit, em 2014. No Brasil, as eleições de 2014 já mostraram a importância do debate digital, mas foi na eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, que as redes sociais ganharam o status de "decisivas".

Celular com o ícone do WhatsApp, um dos principais aplicativos propagadores de fake news - Dado Ruvic/Reuters

Muito se falou do uso do WhatsApp e da mobilização online conseguida pela campanha do capitão e que esses teriam sido os fatores que o levaram à vitória, mesmo com pouco dinheiro e reduzido tempo de TV. Não se pode ignorar, contudo, o aumento considerável do tempo de exposição na grande mídia por conta da facada que levou.

Durante todo o seu mandato, o presidente Bolsonaro não saiu do modo "campanha" e privilegiou as redes sociais para se comunicar. A "narrativa" governamental, expressão cara aos bolsonaristas, utilizou linha antissistema, atacando a imprensa e as instituições, como o Congresso Nacional e o STF.

Muitas vezes, essa "narrativa" foi pitoresca, especialmente na época da pandemia, quando Bolsonaro defendeu o uso de medicamentos ineficazes e questionou as vacinas desenvolvidas para combater o vírus, em linha com as visões da extrema-direita mundial.

Mas toda essa "comunicação paralela" privilegiando uma realidade que só existe nas redes sociais bolsonaristas seria suficiente para garantir a reeleição? Ao que tudo indica, ainda que o mundo online possa ter sido responsável por manter o agrupamento bolsonarista coeso e capaz de defender atitudes questionáveis do governo, a julgar pelas pesquisas de opinião, o mundo real parece se impor. As dificuldades econômicas, principalmente da população mais pobre, dão argumentos mais fortes para a preponderância do voto de mudança.

Observando o comportamento do debate digital neste período de campanha, em especial o Twitter, nota-se que os momentos com maior atenção dos usuários sobre os quatro presidenciáveis à frente das pesquisas coincidem com fatos ocorridos fora das redes. A série de entrevistas ao Jornal Nacional, o debate da Band e as comemorações de 7 de Setembro registram os picos de menções a eles nesses 36 dias de campanha. Isso reforça o caráter "multiplataforma" da comunicação eleitoral moderna.

Ademais, ainda que a oposição não tenha a mesma desenvoltura digital, seja por desconhecimento ou pela desarticulação dos principais perfis influenciadores, as mudanças na forma como as redes passaram a distribuir conteúdo parecem estar equilibrando o jogo e reduzindo a supremacia bolsonarista.

Os conteúdos de interesse ("interest graph") produzidos de forma pulverizada por influenciadores (inclusive de perfis de fora da política) aparecem agora de forma recorrente nas timelines das redes, em decorrência do sucesso do algoritmo do TikTok, que inspirou mudanças de outras redes por meio de conteúdos entregues em Reels (Facebook e Instagram) e Shorts (YouTube).

Nenhum recurso eleitoral é suficiente por si só. As redes sociais têm limitações, seja pelo perfil dos usuários ou mesmo pelos algoritmos responsáveis pela entrega dos conteúdos, e é necessário compreendê-la como parte da engrenagem que compõe uma campanha política. O debate digital dialoga com a agenda dos candidatos, que passam por eventos de TV ou de rua. A campanha que combina melhor seus recursos é a que tem mais chance de ter sucesso.

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