Walter Casagrande Jr.

Comentarista e ex-jogador. É autor, com Gilvan Ribeiro, de "Casagrande e seus Demônios", "Sócrates e Casagrande - Uma História de Amor" e "Travessia"

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Walter Casagrande Jr.

Por que não farei parte da transição do governo Lula

Meus compromissos como colunista me impedem de participar; mas vou ajudar com projetos

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Fiquei super-honrado de ter sido convidado pelo presidente Lula para fazer parte da equipe de transição do esporte.

Aceitei na hora, porque tenho ideias de projetos importantes para as categorias de base. Mas, após conversa com o Juca Kfouri, percebi que, como sou colunista da Folha e do UOL, precisaria recuar, porque haveria conflito com o meu trabalho.

Como tenho orgulho do meu estilo direto, de ser um comentarista e um colunista totalmente independente, de não dever favores a ninguém, percebi que talvez essa independência diminuiria.

Parlamentares, presidentes de partidos e lideranças políticas participam de reunião do conselho político do governo de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil - Pedro Ladeira/Folhapress

Já disse diversas vezes que há três coisas que não negocio: minha liberdade, minha sobriedade e a nossa democracia. Então, continuei na coerência da minha ética profissional.

O que não me impede de, informalmente, mandar os meus projetos para a equipe de transição. E eles poderão avaliar se a minha visão faz sentido.

Eu me preocupo muito com a saúde mental dos garotos e das garotas que estão iniciando no futebol. Muitos vêm da parcela mais pobre da nossa sociedade, de famílias desestruturadas, vivendo muito perto da violência e do tráfico. Mas são jovens talentosos que precisam de oportunidades.

O departamento médico dos clubes precisa ter uma psicóloga ou um psicólogo para ajudar na saúde mental desses garotos e dessas garotas.

Porque eles vão crescendo sem preparo, para o sucesso ou para o fracasso. Quem vem de uma família pobre e começa a ganhar dinheiro, muitas vezes, precisa de uma estrutura psicológica para tratar disso.

Assim como aquele que é muito bom jogador, mas o futuro não acontece como a família imaginava. Esse jovem corre um sério risco de se perder pela forte frustração que poderá sentir.

Outro fator importante em que profissionais da saúde mental podem ajudar os jovens atletas é nas escolhas. Porque o futebol oferece muitas coisas legais, muitas portas se abrem. Só que algumas guardam um terror por trás, como drogas e álcool.

Quantos ótimos atletas se perderam pelo caminho por causa disso?

Dois exemplos mais atuais de jogadores supertalentosos: Jobson, que jogou no Botafogo, e Diogo Victor, que surgiu como craque na base do Santos. Eles desperdiçaram o talento por causa desse encontro muito desfavorável para quem não está preparado.

O acompanhamento psicológico tratará de problemas emocionais, das dificuldades de lidar com as coisas, e isso é pouco trabalhado na base dos clubes.

Acho importante, no caso do futebol, ter abertura para todos, não só para os garotos e garotas que podem pagar as escolinhas. Mais opções gratuitas, por meio de políticas públicas, para a garotada jogar futebol.

O esporte é o maior meio de inclusão social e de aceitação às diferenças, com um potencial de transformar a sociedade (para melhor) muito grande.

Sem contar que o talento de jovem jogadores, muitas vezes, salva toda uma família. Em alguns casos mais raros, com reflexos em comunidades inteiras. E isso precisa ser trabalhado. Um adolescente de 13, 14, 15 anos não pode ter esse peso, essa pressão, essa responsabilidade nas costas.

Enfim, tenho muita coisa na cabeça que poderia ajudar na formação não só de jogadores e jogadoras de futebol. Mas, principalmente, de cidadãos e cidadãs.

Estou feliz com essa possibilidade de colaboração, mesmo que seja de longe.

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