Como seria o futebol se o Pelé não tivesse existido?
Seria um jogo chato sem a genialidade dele.
Como a bola iria saber como rolar em campo se Pelé não tivesse ensinado tudo a ela?
Eu vejo o futebol através da primeira imagem que a minha memória afetiva guarda desse esporte, que foi na Copa de 70.
Sou de uma família super corintiana. Então, o que eu mais ouvia em casa era Corinthians, Rivellino e, obviamente, Santos do Pelé.
Mas vê-lo mesmo, eu só fui ver pelas imagens que chegavam da cidade de Guadalajara, na Copa do México.
A arte de perceber o goleiro adiantado e bater direto no gol foi o Pelé que enxergou pela primeira vez.
Nessa jogada, a bola fez assim: "Uau, nunca fizeram isso comigo".
A Copa foi rolando, e muitas coisas geniais foram acontecendo, sempre com a participação do Rei.
Naquela jogada fantástica que culminou com aquela cabeçada fabulosa, com uma defesa espetacular do goleiro Banks, da Inglaterra, a bola saiu pela linha de fundo se achando, porque ela nunca tinha participado de uma jogada como aquela.
Eu me lembro das duas jogadas que ele fez contra o Uruguai.
Na primeira, o goleiro Mazurkiewicz bateu o tiro de meta com a bola à meia altura na direção do Pelé, que não pensou duas vezes e bateu de volta, num lance inesperado e jamais visto. Nessa hora, a bola pensou: "Gosto desse cara".
Pouco tempo depois, ele fez uma das maiores jogadas de todos os tempos em Copas do Mundo.
Tostão tocou para ele na saída do goleiro uruguaio, e Pelé saiu da bola, deu a volta, e já desequilibrado, bateu cruzado. A bola passou raspando.
Nessa sequência, não só a bola ficou de bobeira, mas também os dois times e todo o estádio, que aplaudiu de pé, porque nunca tinha visto essa jogada.
Pelé foi o grande professor da bola. Foi ele quem a preparou para todas as performances geniais que os grandes jogadores que viriam depois dele iriam fazer.
Tudo que Maradona, Cristiano Ronaldo e Messi fizeram com a bola não foi nenhuma surpresa para ela, porque já tinha feito tudo aquilo, e muito mais, nos pés do Pelé.
Antes dele, o futebol era só um esporte. Virou arte depois dele.
Tive o prazer de vê-lo duas vezes no estádio do Pacaembu.
A primeira vez foi num Corinthians x Santos, que terminou em 1 x 1, com um golaço de falta do Rei para o Santos. O empate saiu aos 46 do segundo tempo, do reizinho do parque para o Corinthians.
Dois camisas 10, peça que virou sinônimo de craque depois que Pelé a vestiu.
A segunda vez foi em 1973, na vitória de virada por 3 x 2 contra a Portuguesa, e ele fez dois, mas o segundo é considerado um dos mais lindos da história do Pelé.
Cruzamento do Clodoaldo no peito dele, que deu uma matada "de Pelé" e virou no ângulo. Fantástico!
Foi o maior jogador de todos os tempos, atleta do século, e seu nome virou referência de elogio superlativo.
Quando alguém é acima da média em qualquer coisa, dizem que a pessoa é "um Pelé" daquilo.
O prêmio de melhor jogador do mundo em cada temporada deveria se chamar Troféu Pelé.
Bom, vou me despedindo dos leitores que me acompanharam neste espaço. Como eu disse na última coluna, esta é minha última edição por aqui. Foi um prazer bater essa bola com vocês.
Desejo um feliz Ano-Novo a todos, com torcida para que o Brasil inicie um promissor resgate de valores sociais, ambientais, educacionais e culturais a partir deste 1º dia de 2023.
Beijos, e até breve.
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