Walter Casagrande Jr.

Comentarista e ex-jogador. É autor, com Gilvan Ribeiro, de "Casagrande e seus Demônios", "Sócrates e Casagrande - Uma História de Amor" e "Travessia"

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Walter Casagrande Jr.
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Não foi uma Copa agradável, mas teremos a final do século 21

Ainda não tivemos uma disputa de título com os dois melhores jogadores do mundo se confrontando

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Neste domingo (18), teremos a final do século 21 em Copas do Mundo.

Neste século, não tivemos ainda uma disputa de título com os dois melhores jogadores do mundo se confrontando. Nesse caso, não só para ser campeão, mas também para ser o melhor da Copa do Qatar.

Mas não foi uma Copa tranquila e agradável, por ser num país que não respeita os direitos humanos, trata a mulher como ser inferior e é altamente homofóbico.

Montagem com fotos dos dois jogadores
Lionel Messi e Kylian Mbappé farão o duelo de craques na final da Copa - Gabriel Bouys e Jewel Samad/AFP

Estou aqui há um mês e não tive muita vontade de rodar pela cidade de Doha. Visitei o Museu Nacional do Qatar e o Museu Islâmico, ambos muito interessantes.

Mas nas poucas vezes em que circulei, presenciei situações chocantes, que para as pessoas aqui são normais. Em nenhum momento fora dos estádios encontrei uma atmosfera de Copa do Mundo.

Tudo parece muito superficial. Talvez tenha sido a primeira Copa com uma grande maioria de pessoas disfarçadas de torcedores que queriam só ampliar o número de seguidores nas redes sociais.

As torcidas da Argentina e de Marrocos deram show, porque são autênticas. Cantam o jogo todo, desde o início da Copa, e conforme foram avançando, a euforia e a energia aumentavam.

Foi uma Copa que ficou muito marcada pela ausência de mulheres, desde o espetáculo de abertura.

A Fifa escalou um trio de arbitragem só com mulheres pela primeira vez numa Copa do Mundo, e isso foi uma grande conquista, mas foi apenas para bater cartão, porque depois a presença feminina em campo não se repetiu.

Foi a Copa do Mundo mais política de todas, porque além de ter sido comprada, como mostra a série "Esquemas da FIFA", foi também um evento para tentar limpar a imagem de um país opressor, algo impossível.

Tivemos Messi e Mbappé dando espetáculos, e a melancólica despedida de Cristiano Ronaldo.

Em contrapartida, tivemos censura e ameaças da Fifa para quem quisesse protestar, como foram os casos de Neuer, da Alemanha, e de Harry Kane, da Inglaterra, proibidos de usar a faixa de capitão com a frase "One Love".

Tivemos a coragem das mulheres do Irã nas arquibancadas protestando contra a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, ocorrida em setembro, mesmo sabendo que havia agentes da inteligência iraniana entre os torcedores.

Não dá para varrer toda essa sujeira para debaixo do tapete e dizer que tudo foi divino maravilhoso ou que foi a Copa dos sonhos, muito pelo contrário.

O país não soube como tratar o futebol, violentando as emoções dos verdadeiros torcedores que gritavam na hora de um gol da sua seleção –a organização do Mundial colocava no sistema de som uma música techno altíssima, como se fosse uma balada em Ibiza.

Ficaram explícitas as diferenças de comportamento entre ex-ídolos do futebol brasileiro e os de outros países, como os argentinos.

A ostentação foi jogada na nossa cara com um "churrasco folheado a ouro", confrontando a crise vivida por nossa sociedade por pessoas que deveriam entender e respeitar a dificuldade do nosso povo.

Mas tudo está chegando ao fim e não vejo a hora de chegar ao meu país, na minha cidade, na minha casa. Sinto falta de viver na sociedade a que pertenço, ao lado do povo que respeito, porque sou um brasileiro.
Sou apaixonado pela minha cidade. Sou um paulistano, com muito orgulho.

Neste tempo em que estive aqui no Qatar, ouvi muita música. Resolvi entrar no mundo do rap nacional, principalmente do Racionais MCs e do saudoso amigo Sabotage.

Por isso, vou terminar homenageando o rap e o povo das favelas espalhado pelo Brasil, porque respeito a luta dessas pessoas em busca de se sentirem pertencentes a uma sociedade que a burguesia ignora.
O rap, assim como o futebol, é compromisso.

Fala aí, Sabotage.

"Rap é compromisso, não é viagem
Se pá fica esquisito, aqui, Sabotage
Favela do Canão, ali na zona sul
Sim, Brooklin"

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