Zeca Camargo

Jornalista e apresentador, autor de “A Fantástica Volta ao Mundo”.

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Zeca Camargo

Mágicos da Terra desembarcam em Belém

Onde estavam esses criadores fantásticos? Pergunta tola: criando, sempre

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Em 1989, o Beaubourg, como é conhecido o Centro Georges Pompidou, em Paris, hospedou uma exposição que é até hoje a mais influente de toda a sua história. E foi com uma certa dose de encantamento e orgulho que eu vi uma importante reverberação dela chegar a Belém, 34 anos depois.


Porém, antes de mergulhar na Bienal das Amazônias, onde estive no último fim de semana, vamos voltar àquele verão parisiense. De passagem pela capital francesa, eu já havia me programado para visitar o Beaubourg.

Nada porém havia me preparado para o que veria nas suas galerias. Fui apenas conferir a "exposição da estação" e encontrei uma epifania. Descartando referências convencionais da história da arte, o curador da mostra, Jean-Hubert Martin, teve a ousadia de apresentar "o resto do mundo".

Já citei essa expressão com ironia mais de uma vez: o que é "o resto do mundo" para alguém que ama viajar? Nada menos do que o universo. E para quem achava que a cultura humana se resumia ao que você havia aprendido com a educação ocidental, "Les Magiciens de la Terre" era um tapa na cara.

Ao lado de artistas já então consagrados, como Barbara Kruger, Marina Abramovic, Anselm Kiefer e Sigmar Polke, o visitante encontrava nomes desconcertantes: Huang Yong Ping, Lobsang Palden, Amidou Dossou e Raja Barbu Sharma. E eles quase sempre provocavam um deslumbramento maior que o dos figurões.

Era o mundo escancarando os salões do museu, num riquíssimo e necessário efeito cascata que agora chega a Belém. "Os Mágicos da Terra" do título da coletiva do Beaubourg aportaram finalmente na capital paraense e lá estarão até 5 de novembro, para te provocar.

Zeca Camargo diante de obra de Éder Oliveira na 1ª Bienal da Amazônias, em Belém (PA) - Zeca Camargo/Arquivo Pessoal

"Bubuia" é o tema dessa mostra inaugural, uma inspiração apropriada. A simplicidade de relaxar nas águas de um rio que a expressão traduz está também nos trabalhos dessa Bienal das Amazônias, a começar por uma das fotos da incrível Elza Lima, homenageada com uma sala especial.

Outros artistas importantes da arte contemporânea brasileira, como Adriana Varejão e Anna Bella Geiger, também estão lá. Assim como expoentes de uma nova geração vibrante que começa a brilhar em galerias "do sul": Éder Oliveira, Hal Wildson, Rafael Bqueer, P.V. Dias, Gustavo Caboco.

Zeca Camargo mostra obra de Denilson Baniwan na 1ª Bienal da Amazônias, em Belém (PA) - Zeca Camargo/Arquivo Pessoal


Mas é quando encontramos nomes como Sãnipã, Xadalu Tupã Jekupé, Denilson Baniwan, Faísca, Emanuel Franco, Paola Torrez Nuñez del Prado, NouN e T2i, Elvira Espejo ou Uyra Sodoma que vem a tal epifania.

Onde estavam esses criadores fantásticos? Pergunta tola, resposta óbvia: criando, sempre. Mas nos seus espaços, até agora definidos geograficamente como Amazônia. O que esta bienal faz é implodir esses limites e levar esses imaginários riquíssimos para o infinito.

Obra de Francelino Moraes na 1ª Bienal da Amazônias, em Belém (PA) - Zeca Camargo/Arquivo Pessoal


Não é por acaso que um evento desses acontece em Belém. O projeto de Lívia Condurú chegou dez anos depois de sua concepção a uma cidade pronta para ser um portal da Amazônia (e do Brasil!) para o mundo.

Reenergizada com a escolha para receber a COP30, em 2025, a capital paraense é mais um exemplo de um polo turístico que quer ir bem além do cartão postal. Semanas atrás, brinquei aqui com a inusitada noção de viajar para Fortaleza não apenas por causa das praias, mas para explorar a arte contemporânea de lá na novíssima Pinacoteca.

Belém, com essa iniciativa atrevida, montada no espaço improvável de uma antiga loja de departamentos, no coração do comércio popular da capital, prova que também está de olho em horizontes bem além daquele sol que se põe feericamente na baía do Guajará.

Ela quer ser mais um portal para esses "mágicos da Terra", prontos para te encantar. Entenda sinais.

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