Descrição de chapéu polícia civil violência

Tropas do Exército fazem ação em favela e bloqueiam rodovias do RJ

Operações são primeiras após anúncio de intervenção federal

Sérgio Rangel Danilo Verpa
Rio de Janeiro e São Paulo

Três dias após o anúncio da intervenção federal no Rio de Janeiro, dezenas de caminhões, tanques e veículos blindados do Exército deixaram no final da tarde de segunda (19) diversos batalhões em Deodoro, zona oeste do Rio para isolar uma comunidade tida como reduto do crime organizado. A ação é parte da mobilização que colocou 3.000 homens de forças federais para bloquear os acessos à região metropolitana. 

O Exército e governo federal dizem que as movimentações ainda são parte da  GLO (Garantia da Lei e da Ordem), em vigor desde o ano passado no Rio de Janeiro. O Congresso Nacional deve ainda votar se a intervenção federal irá continuar ou ser anulada.

CHAPADÃO

Em um comboio de cerca de um quilômetro, centenas de militares, muitos deles com rostos cobertos por balaclavas, ocuparam as entradas do complexo do Chapadão, na zona norte, uma das regiões mais violentas da capital.

A operação é a primeira desde que o presidente Michel Temer anunciou a intervenção na segurança pública do Rio na última sexta-feira (16). 

Várias entradas foram fechadas nos bairros de Guadalupe e Anchieta, na zona norte. A Folha acompanhou a movimentação dos militares do REI (Regimento Escola de Infantaria) em Anchieta.

O Chapadão reúne criminosos que deixaram morros ocupados pelas UPPs, como o Complexo do Alemão, e montaram ali uma central que se especializou no roubo de cargas. Bandidos costumam montar barricadas na rua para impedir o avanço policial.

As favelas do Complexo do Chapadão e da Pedreira ficam próximas da avenida Brasil, uma das principais vias de acesso ao Rio. Atualmente, o Chapadão está sob domínio do Comando Vermelho e a Pedreira, dos rivais Amigos dos Amigos.

De acordo com a assessoria do Comando Militar do Leste, apesar dos bloqueios montados no Chapadão, não há planos de militares entrarem na favela.

Três mil militares fazem parte da operação, que ocorre nos moldes de outras ocorridas no ano passado, por exemplo, na Rocinha. Até às 18h22 não havia registro de confrontos. Outros militares permaneceram de prontidão em quarteis de Deodoro, que concentra o maior número de instalações do Exército no Rio.

Em Brasília, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, comentou a movimentação, enquanto chegava à Câmara dos Deputados acompanhar a votação do decreto de intervenção do Rio. "Neste momento, no Rio de Janeiro, as Forças Armadas, juntamente com a Polícia Rodoviária Federal, estão bloqueando todas as rodovias de acesso ao Rio de Janeiro e todos aqueles pontos identificados de maior quantidade de roubo de carga. A operação vai varar a noite e continuar até o próximo dia".

Em setembro passado, no âmbito da operação GLO (Garantia da Lei e da Ordem), assim que chegaram ao Rio, os militares fizeram o que chamaram de operação de reconhecimento. Blindados montaram blitzes nas vias expressas e homens do Exército tomaram posições de observação das principais entradas das favelas que margeiam os locais.

Tudo indica que a operação desta segunda-feira (19) tenha esse intuito, apesar de o CML (Comando Militar do Leste) não ter se pronunciado oficialmente sobre a ação. Não havia até as 18h22 registro de confrontos.

Uma das barreiras ficou na frente da rua Fernando Lobo, em Guadalupe. A via é uma das entradas mais perigosas da região. É comum a passagem por ali dos chamados "bondes", que são grupos de traficantes fortemente armados, vindos do Chapadão. O deslocamento das tropas gerou engarrafamento nas ruas dos arredores das favelas. Moradores observavam a movimentação.

A Folha esteve em diversos pontos do bairro de Deodoro, na zona oeste, onde há grande concentração de quartéis. De acordo com soldados ouvidos pela reportagem, a operação é tratada com sigilo pelo comando. Os praças foram orientados a voltar no dia seguinte para participar de uma nova operação, sem que detalhes tenham sido repassados. Alguns dos soldados ouvidos participaram de operações na Rocinha, zona sul, e Morro dos Macados, zona norte, no ano passado.

Colaborou LUCAS VETTORAZZO

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