Considerado o mais importante evento internacional na discussão de temas como a crise hídrica, o 8º Fórum Mundial da Água iniciará neste domingo (18) em Brasília sem ser afetado pelo racionamento que ocorre há mais de um ano na capital do país.
Até o dia 23, a região que concentra a maioria dos hotéis, o centro de convenções Ulysses Guimarães e outros pontos da área do evento deve ganhar uma trégua nas medidas de contenção do uso da água. “Neste período, vamos suspender [o rodízio] na região central para garantir o abastecimento de água dentro do fórum”, afirmou à Folha o presidente da Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal), Maurício Luduvice.
Ao todo, 40 mil pessoas são esperadas para o evento, entre autoridades, especialistas e interessados no tema.
Deste total, cerca de 13 mil estão inscritos para acompanhar as quase 300 sessões de debates, dos quais quase metade são estrangeiros. O restante é esperado para a área de exposições e demais atividades gratuitas.
“Nossa expectativa é que durante o período do fórum as pessoas venham e tenham condições de participar. E aí colocamos água disponível. Queremos garantir que não tenham problemas”, afirma o presidente da Caesb.
A suspensão, assim, deve fazer com que participantes do evento que discute questões como escassez de água e falta de saneamento fiquem livres do racionamento que continuará no seu entorno.
O rodízio de bairros sem água é adotado desde janeiro do ano passado, quando o governo local passou a interromper o fornecimento de água em cada região por até 24 horas a cada cinco dias.
A justificativa estava no baixo nível dos reservatórios: em menos de dez meses, o manancial do Descoberto, que abastece a maior parte do Distrito Federal, por exemplo, passou de 19% para 5,3%, o pior nível já registrado.
Com as chuvas, a situação dá sinais de melhora, mas o racionamento ainda não tem data para acabar. O governador Rodrigo Rollemberg (PSB), no entanto, tem dito que a ideia é que termine neste ano.
Hoje, ao menos 2,1 milhões de pessoas ainda vivem em áreas onde há racionamento —o equivalente a 85% da população do Distrito Federal.
O impacto dessas ações na rotina da população, porém, depende da disponibilidade de caixas-d’água e de outros recursos. Sem esse aparato, a cozinheira Shirley Ferreira, 35, prepara a cada semana um arsenal de sobrevivência a ser usado por ela e uma família vizinha nos dias de rodízio no Paranoá, bairro onde mora.
São seis baldes (usados para banhos, cozinha e limpeza), uma bacia (para emergências) e parte de um tanque, cujo escoamento é bloqueado com uma tampa.
“Como o racionamento é só por um dia, [o estoque] dá. Mas não é bom não. Se for para fazer uma comida a mais, já não posso”, afirma ela, que avalia a possibilidade de comprar uma caixa-d’água. “Tenho medo de ficar sem.”
Ter um reservatório, porém, não é sempre uma garantia. “Se a água demora a voltar, aí falta mesmo”, relata a dona de casa Luiza Maria da Cruz, 80, que, mesmo tendo comprado uma caixa-d’água de 500 litros, mantém ao menos três baldes de água cheios nos dias de rodízio.
FÓRUM
A cerca de 20 km da casa de Luiza, a escassez de água e gargalos para o saneamento no mundo serão justamente os temas discutidos durante a 8ª edição do Fórum Mundial da Água.
Realizado a cada três anos, esta será a primeira vez em que o evento é realizado no Hemisfério Sul.
O evento é organizado pelo Conselho Mundial da Água, órgão internacional que tem como presidente o atual secretário paulista de recursos hídricos, Benedito Braga. O objetivo é discutir erros, acertos, desafios e novas propostas e compromissos políticos para o impulsionamento do saneamento, a preservação de mananciais e o uso racional da água no mundo. Ao menos dez chefes de Estado estão confirmados.
Para tentar minimizar os impactos ambientais causados pelo próprio evento, o Fórum permite que seus inscritos doem dinheiro que será revertido na recuperação do ribeirão Pipiripau, que faz parte da rede de abastecimento do DF. O evento ainda irá monitorar a emissão de carbono e compensá-la com ações de recuperação de áreas degradadas no DF.
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