Assaltos violentos, com agressão a vítimas, levam medo à rua Frei Caneca

Frequentadores de via próxima à Paulista relatam ataques de grupos

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Rua Frei Caneca, onde uma série de roubos foi registrada nos últimos dias
Rua Frei Caneca, onde uma série de roubos foi registrada nos últimos dias - Patricia Stavis - 10.abr.2018/Folhapress
São Paulo

​O publicitário Diego dos Santos, 31, pressentiu que seria assaltado. Tentou se refugiar sob as luzes e as câmeras de segurança de um prédio conhecido e fingiu amarrar o calçado. Mas não adiantou.

O homem que caminhava atrás dele não passou direto, como ele torcia. Parou, anunciou o roubo e, na sequência, outros dois comparsas se aproximaram e iniciaram as agressões. “Agrediram muito. Então caí e comecei a pedir desculpas, por que não sabia porque estava apanhando.”

O roubo seguido de agressões sofrido por Diego —que lhe renderam um nariz quebrado— ocorreu no final do mês passado na rua Frei Caneca. A via próxima à avenida Paulista, na região central de São Paulo, transformou-se em palco comum desse tipo de ataque violento.

Segundo moradores e frequentadores da região, também conhecida como um reduto LGBT, há desde o final do ano passado diversos relatos de roubos praticados por grupos de até dez pessoas que, muitas vezes, já chegam agredindo as vítimas.

DADOS

De acordo com dados obtidos pela Folha com integrantes da cúpula da segurança paulista, nos três primeiros meses deste ano ao menos 75 roubos foram registrados só na Frei Caneca —acréscimo de 21% em relação ao mesmo período de 2017, quando foram anotados 62 crimes.

Os dados oficiais não conseguem medir, porém, a extensão exata do problema, já que muitas vítimas não procuram a polícia. De quatro casos localizados pela Folha, por exemplo, dois não foram para um distrito policial.

Um desses crimes sem registro se deu com o barman Lucas Leandro, 27, que trabalha em um bar na própria Frei Caneca e, há duas semanas, foi atacado quando deixava o trabalho, por volta das 3h.

“Eles me cercaram e pediram o celular. Estavam em três. Eu segurei a faca, dei uma bicuda em um deles e saí correndo”, diz ele, mostrando o corte na mão, ainda visível.

Ele deu sorte, mas diz não querer arriscar outra vez. Depois do ataque, não vai mais a pé até a parada de ônibus, como antes, para voltar para casa. Prefere pegar carona de carro com um amigo.

 

VÍDEOS

O porteiro Alexsandro Rodrigues, que há oito anos trabalha em um prédio da Frei Caneca, disse que já perdeu a conta de quantos roubos presenciou nos últimos meses só sentado em seu posto.

“Toda sexta, sábado, domingo e feriado tem arrastão. No Carnaval era quase todo dia”, afirma. “Sábado agora chegou um rapaz aqui todo machucado.”

Rodrigues diz que a polícia nunca esteve no prédio solicitando imagens —suas ou as do prédio— para investigações e, assim, nunca conseguiu ajudar. “Se eles colocassem um carro aqui parado, pegava muita coisa.”

Outra vítima desses chamados arrastões é o professor universitário Jorge Rodrigues de Souza, 36, atacado no mês passado quando, ao lado do namorado, passeava com seu cachorrinho. “Eu fugi porque fiquei com medo de roubarem ou machucarem o cachorro. Aí, cercaram apenas meu companheiro.”

Ele continua. “Eles só não conseguiram roubar porque ele estava com pochete debaixo da roupa, não acharam, e um carro começou a buzinar e frear pneus. Tem sido uma constante esses arrastões. Tenho evitado sair à noite para fazer qualquer coisa, ir ao cinema, jantar”, afirma.

Os roubos também mudaram a rotina do publicitário José Marcelino Souza, 57, que chama carros por aplicativo até mesmo para se deslocar por apenas dois quarteirões.

“Prefiro pagar R$ 7 de Uber e chegar com minha cara inteira em casa”, afirmou ele.

Souza diz que a mudança ocorreu pelo roubo que sofreu em janeiro, quando foi assaltado por dois homens, e também pelo relato de alguns amigos que foram agredidos violentamente durante o roubo.

“Meu amigo tinha sido assaltado duas semanas antes por dez criminosos. Ele tem 1,90 m e, mesmo assim, jogaram ele no chão e começaram a chutar o rosto, dar soco e levaram tudo dele”, disse.

“Outro apanhou tanto que vai precisar passar por cirurgias plásticas. Não é por ser gay ou não, porque assaltam direto as velhinhas daqui.”

A Polícia Militar afirma que “tem desenvolvido diuturnamente ações preventivas na área”, incluindo programas de policiamento comunitário, patrulhamento com bicicletas e a pé, além de outras operações.

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, em toda a região do 4° DP (Consolação) foram presas 24 pessoas em flagrante entre janeiro e fevereiro deste ano.

Colaborou Márcio Sampaio, de São Paulo

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