Durante os últimos 30 anos, qualquer aluno da Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, que fosse à sessão de alunos era recebido da mesma forma por Maria Lúcia. "Oi, bonitinho(a)", dizia, com um sorriso que já acalmava os mais aflitos.
Nascida em Maceió (AL), Maria Lúcia veio para a capital paulista ainda pequena, com a mãe, tios e irmãos —ao todo, foram sete. Estabeleceram-se na Casa Verde, na zona norte. Como era a segunda mais velha, pesou sobre ela a responsabilidade de ajudar em casa.
O período de dificuldade foi enfrentado com o amor que tinha a oferecer. Um dia, ao chegar do serviço, encontrou a irmã Rita apanhando da mãe. Era aniversário da menina, que foi consolada pela irmã mais velha, que lhe trouxe um bolinho.
Outro irmão, Marcelo, conseguiu o primeiro emprego aos 15 anos, num fórum, com a ajuda dela. Foi ela também quem providenciou o primeiro terno do garoto. Até hoje ele trabalha no mesmo lugar.
Ajudava a cada um da maneira que pudesse. Já formada em pedagogia, quando passou no concurso para trabalhar na São Francisco, foi como se o seu afeto apenas atendesse a um público maior.
Um dos alunos lembra até hoje que, se não fosse por ela, não teria se formado. Os professores iriam discutir o seu caso e ele a procurou, desesperado. "Fica tranquilo, pensa positivo", disse Maria Lúcia. No dia da reunião entre os docentes, ela se trancou no banheiro e ficou rezando para que desse tudo certo. O estudante foi aprovado e conseguiu o seu diploma.
Morreu na segunda (16), aos 61, em decorrência de um câncer. Deixa o marido Amauri, com quem faria 25 anos de casada, o filho César Augusto, a mãe Benedita e seis irmãos.
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